Se Lula tivesse ganho as primeiras eleições livres depois da ditadura, em 1989, perdidas aos 45 minutos do segundo tempo para Collor e o debate editado da Globo, teria dois caminhos:
- sucumbiria à inflação galopante que Sarney deixara em mais de 1.000% e às urnas. Ou
- reelegeria seu sucessor (José Dirceu?) em 1994. Se, claro, não dobrasse o Congresso para aprovar uma proposta de reeleição.
Se vencesse, conduziria o país para seu projeto de socialismo populista e generosa distribuição de renda.
Se perdesse, por fraqueza ou maturidade, perderia o ímpeto para fazer oposição ao novo governo depois dele, fosse um socialista moderado ou um liberal do tipo reestruturação da moeda, privatizações, contenção de gastos públicos e responsabilidade fiscal. Um tipo de Plano Real.
Como não ganhou em 89 e nem em 94 e nem em 98, passou 12 anos se opondo a tudo o que se propunha no país e vendendo suas ilusões de que outro mundo, outros políticos e outros comportamentos republicanos eram possíveis. Com ou sem orçamento.
E o resultado é que esse país que chega sempre atrasado em tudo (à democracia, ao capitalismo, aos computadores) precisou esperar por mais 12 anos – os de seu governo e o de Dilma – para se encontrar com a realidade.
Só agora, 24 anos depois da eleição que ele poderia ter ganho, quando o Ministério de Dilma vem requentado de anões, vilões e uma cabeça moralizadora na economia, percebe-se entre seus aliados nas redes socais e na imprensa uma decepção genuína.
>>> Ver artigo de Ricardo Melo, da FSP, um indisfarçado simpatizante dela nas eleições.
Que tem três grandes virtudes:
1. A de aprender enfim que não é possível governar sem fazer concessões nesse modelo apodrecido de 30 e tantos partidos vendendo seu apoio em eleições financeiramente infladas.
2. A de saber que não é possível governar sem fazer contas, achando que o dinheiro é finito e fabricável.
3. Que Lula e Dilma não são melhores ou piores que qualquer outro político. Apenas inexperientes e sujeitos às mesmas fraquezas e à mesma falta de humildade.
Esse determinismo retroativo, na célebre expressão de Malcolm Gladwell, é uma bobagem, mas serve para ajudar a refletir como os políticos colocam suas inexperiências a serviço do país.
Fazem dele seu laboratório e nós de cobaias de suas experimentações, sejam teóricas, quando fora do governo, sejam práticas, quando dentro.
E, de qualquer maneira, não são diferentes do mesmo tipo de ilusão que empurrou Lula e Dilma até esse ponto de encontro com o real. O que pode ser, com pelo menos mais 12 anos de atraso, o início do fim de nossa inocência de muita gente que precisava ter sido acordada há mais tempo.
Que melhor mensagem para o novo ano que bate às portas?
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