Todos os institutos de pesquisa americanos, todos sem exceção, erraram o resultado das eleições de ontem.
Até a véspera, segunda-feira, Hillary Clinton tinha 90% de chances de ser a próxima presidente dos Estados Unidos, segundo a pesquisa encomendada ao Ipsos pela Reuters. Mais modesto, o FiveThirtyEight de Nate Silver, que em 2012 acertara o resultado em 49 dos 50 estados, carimbou com sua precisão estatística costumeira que ela estava 69,9% eleita.
Numa compilação de todas as pesquisas do site Real Clear Politics, ela estava nitidamente a frente de Donald Trump por 3% pontos de vantagem.
É possível que seus especialistas não tivessem dados suficientes que lhes dessem segurança para definir para que lado a balança estava pendendo na reta final da mais polarizada das eleições americanas, com imigrantes e brancos correndo para antecipar votos. Mas duas coisas podem ter pesado na decisão de antecipar o resultado de boca de urna, que os grandes jornais e redes de TV cautelarmente evitam:
- Arrogância.
Com tanto acerto, os institutos no mundo todo têm uma forte tendência para arriscar até a última hora. Na proporção inversa, a mesma dificuldade para assumir seus erros. Logo logo, virão a público dar uma boa explicação que, no geral, se assenta na velha história de que se trata de um retrato de um momento. Quando acertam, se fazem de bruxos. Quando erram, que apenas retrataram um momento. - Torcida.
Como a grande maioria do establishment do mundo da comunicação nos Estados Unidos e fora dele, formado de analistas de todos os naipes, seus donos podem ter sido obnubilados pela torcida por Hillary e por um mundo cuja defesa parece óbvia, apesar de estar desabando. Hilary é tão moderna e enquadrada nos princípios humanitários da globalização sem fronteiras que é impensável que alguém tão tosco e avesso a tudo isso pudesse ser eleito.
Peguei um dos que mais respeito, Lucas Mendes, internacionalista antenado de análise sempre sofisticada e prudente, horrorizado com a hipótese de que Donald Trump pudesse vir a ser o presidente americano. Não deveria ter sido escolhido pela convenção republicana. Se foi, não deveria ter sido candidato. Se foi candidato, não deveria ser eleito.
— Ele não vai ser eleito — vaticinou numa conversa da turma do Manhattan Connection reunida pelo site O Antagonista.
Foi um dos mais fortes insights para mim, candidato a analista internacional, de que ainda não caiu a ficha. Mesmo nos ambientes mais intelectualmente sofisticados. Ou talvez por isso mesmo. É nos ambientes intelectualmente mais sofisticados que a história chega por último.
Melão diz
Os grandes jornais fizeram campanha descarada para a petista americana e ela fracassou.Será que o Trump estava certo ao afirmar que os jornalistas são alienados,corruptos e escoria? O que chama a atenção,aqui no Brasil,é a cara de velório dos empregados da rede globo ao apresentarem os tele jornais da emissora e não ter como escapar de dar a noticia verdadeira sobre quem ganhou as eleições no E.U.A.
Ricardo Kertzman diz
Ramiro, Luiz Felipe Pondé, me parece, resumiu tudo sobre pesquisas: As pessoas da vida real estão se lixando para discussões raciais, de gênero, ideológicas, etc. Estão preocupadas com as contas, com o emprego, em transar de vez em quando. Nascem, comem, crescem, reproduzem e morrem. Teses filosóficas, análises qualitativas, marketing eleitoral, habitam um universo próprio, diferente daquele que deposita o voto na urna. O cara é doido, sonegador, falastrão, populista? Dane-se, desde que resolva o “meu” problema. Abração e parabénzaço pela página!
Afonso Lemos diz
Agora é aguardar os acontecimentos, nada pode ser feito. O Bolsonaro mais branquelo e talvez menos imbecil ganhou.
Bruno Motta diz
Chola mais mídia!
#Bolsonaro2018
José Leandro Junqueira Meireles diz
Torcida por Hillary pode explicar fiasco das pesquisas na eleição americana
9 de novembro de 2016 by Ramiro Batista 2 Comments
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Torcida por Hillary pode explicar fiasco das pesquisas na eleição americana
Como ocorreu com os analistas políticos, torcida por Hillary podem ter cegado os institutos (Fotos Reprodução e GraphicStock)
Todos os institutos de pesquisa americanos, todos sem exceção, erraram o resultado das eleições de ontem.
Até a véspera, segunda-feira, Hillary Clinton tinha 90% de chances de ser a próxima presidente dos Estados Unidos, segundo a pesquisa encomendada ao Ipsos pela Reuters. Mais modesto, o FiveThirtyEight de Nate Silver, que em 2012 acertara o resultado em 49 dos 50 estados, carimbou com sua precisão estatística costumeira que ela estava 69,9% eleita.
Numa compilação de todas as pesquisas do site Real Clear Politics, ela estava nitidamente a frente de Donald Trump por 3% pontos de vantagem.
É possível que seus especialistas não tivessem dados suficientes que lhes dessem segurança para definir para que lado a balança estava pendendo na reta final da mais polarizada das eleições americanas, com imigrantes e brancos correndo para antecipar votos. Mas duas coisas podem ter pesado na decisão de antecipar o resultado de boca de urna, que os grandes jornais e redes de TV cautelarmente evitam:
Arrogância.
Com tanto acerto, os institutos no mundo todo têm uma forte tendência para arriscar até a última hora. Na proporção inversa, a mesma dificuldade para assumir seus erros. Logo logo, virão a público dar uma boa explicação que, no geral, se assenta na velha história de que se trata de um retrato de um momento. Quando acertam, se fazem de bruxos. Quando erram, que apenas retrataram um momento.
Torcida.
Como a grande maioria do establishment do mundo da comunicação nos Estados Unidos e fora dele, formado de analistas de todos os naipes, seus donos podem ter sido obnubilados pela torcida por Hillary e por um mundo cuja defesa parece óbvia, apesar de estar desabando. Hilary é tão moderna e enquadrada nos princípios humanitários da globalização sem fronteiras que é impensável que alguém tão tosco e avesso a tudo isso pudesse ser eleito.
Peguei um dos que mais respeito, Lucas Mendes, internacionalista antenado de análise sempre sofisticada e prudente, horrorizado com a hipótese de que Donald Trump pudesse vir a ser o presidente americano. Não deveria ter sido escolhido pela convenção republicana. Se foi, não deveria ter sido candidato. Se foi candidato, não deveria ser eleito.
— Ele não vai ser eleito — vaticinou numa conversa da turma do Manhattan Connection reunida pelo site O Antagonista.
Foi um dos mais fortes insights para mim, candidato a analista internacional, de que ainda não caiu a ficha. Mesmo nos ambientes mais intelectualmente sofisticados. Ou talvez por isso mesmo. É nos ambientes intelectualmente mais sofisticados que a história chega por último.
Ramiro Batista diz
Perfeito. Acho que, tirando Diogo, os demais são imigrantes.
Cristiano Marques diz
Parece que no MC, o Diogo Mainard torcia abertamente por Trump.
Blinder, politicamente correto, torcia por debaixo do pano.
Mas, na verdade, ninguém acertou.
Ninguém.