Dura a vida da Fátima Bernardes.
Depois de reinar absoluta como a senhora todo poderosa da noite brasileira, pontificando sobre gatos e ratos de toda a espécie, agora tem que disputar espaço com Tom & Jerry (além de X-Men e Ben10), no ingrato papel de gata grande que precisa correr atrás do ratinho irrelevante. A trinca do programa Bom dia & Cia, do SBT, anda peitando seu novo programa nas manhãs da Globo, com o mesmo índice de audiência – 7 a 7. O noticiário de hoje adianta que a emissora já planeja mudanças, de iluminação e cor dos móveis, para tirar o clima de boate. Como naquela piada do marido traído que troca o sofá.
Dura a vida da TV aberta.
No admirável mundo novo de nichos de mercado e alta segmentação, é arriscado manter grades que misturam novela, filmes, desenhos animados e, principalmente, jornalismo – esse falatório danado que ocupa as abertas de manhã à tarde e que, na Globo, parece ser solução de emergência para tudo. Fátima Bernardes perde para os desenhos do Sílvio Santos porque deixou de atender parte do público múltiplo da manhã, a meninada de olho no Globinho.
A Globo sempre estruturou sua grade de forma a contemplar todos os públicos de acordo com o que ela entende por comportamento doméstico. Inferiu que o homem da casa quer ver um jornal (Bom Dia, Brasil) enquanto toma o café da manhã. Quando sai, deixa a mulher ou a empregada vendo a Ana Maria Braga, que, por sua vez, para se darem um descanso, colocaram os meninos na frente do Globinho até a hora do banho. O homem que volta para o almoço quer ver os programas jornalísticos e de esportes. É a mesma lógica da programação noturna – o Jornal Nacional não pode ser muito profundo para não espantar a dona de casa que pegou a novela das sete e vai esperar a das nove.
O novo programa é uma inflexão nesta lógica e deve ser uma opção de mercado mais lucrativa. Mas os executivos devem estar com uma dúvida hamletiana entre ganhar dinheiro com adulto ou audiência com criança, abrir ou não abrir o flanco onde o adversário é mais vulnerável.
Sílvio Santos nunca teve uma lógica percebível, a não ser tirar velhos desenhos do armário sempre que se sente ameaçado. Nunca se arrependeu, mas seu estoque de desenhos pode não ser tudo. Ele também é TV aberta e, como a sua principal rival, suas mágicas também têm dias contados.
Um dia, como ela, também vai ter quer escolher seu nicho.
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