Eu também sou dos 75% que não querem o PT e Lula de volta.
Também concordo que os dois são os principais responsáveis pela ruína política, econômica e moral em que estamos metidos, como também pela maior quota de culpa na divisão do país, desde que começaram a rotular os que não concordam com eles de reacionários e fascistas.
Mas não estou entre os 44% que rejeitam Fernando Haddad a priori. Posso dar-lhe uma chance, se ele me convencer de algumas coisas.
Também acho tudo o que se diz de Jair Bolsonaro sobre seu despreparo e suas tentações autoritárias. Mas também não estou entre os 44% que o rejeitam a priori, antes que ele me convença de algumas coisas.
Os dois lados podem me dizer que não há nenhuma dúvida sobre a degradação ética de um lado e o fascismo do outro, ou a tentação autoritária de ambos. Mas só o fato de haver certos consensos dos dois lados me autoriza a duvidar e perguntar mais um pouco.
Primeiro porque acho limitados os julgamentos públicos que fizeram até agora a grande imprensa e as redes sociais. A primeira, porque sempre fui cético sobre sua imparcialidade. As segundas, porque nunca tive dúvidas de sua parcialidade.
Segundo que, por humanista e não ideológico, enxergo pessoas, seus desejos e limitações. Não partidos, ideologias, suas ambições de enquadramento. E tenho estoque de paciência ilimitado para dar aos outros o benefício da dúvida até que me provem culpados.
Terceiro que eles não se expuseram o suficiente para que eu entenda o que de fato pensam, propõem e contradizem. Principalmente o que dizem nas entrelinhas, onde em geral traem o que de fato pensam.
Daí que torço para que haja um segundo turno.
Fernando Haddad e Jair Bolsonaro precisam ser mais expostos, confrontados e explicitem melhor suas diferenças. Para que eu interprete suas linhas e entrelinhas. E, quiçá como a sociedade, possa reduzir a taxa de preconceito que tenho contra eles.
A principal diferença, sobre o grau de liberdade da economia, me põe do lado de Bolsonaro.
O que sei desde que o homo sapiens embrenhou a jornada dos descobrimentos, criou as revoluções industrial, tecnológica e de informação, é que o liberalismo é o pior regime que existe, mas ainda não apareceu melhor.
E o que aprendi em mais de 30 anos de serviço público, é que o governo é péssimo patrão, perdulário, ineficiente, avesso ao mérito e à competição que fizeram as revoluções anteriores.
A matriz de Fernando Haddad, nas linhas e entrelinhas, é toda de controle do Estado, na vida pública, pessoal e sobretudo econômica. Toda a sua fala, consciente e inconsciente, é por um Estado que pode tudo, que vai distribuir o paraíso em emprego, renda e felicidade, investindo ele próprio. Basta fazer um ajuste e não reformas radicais, sugere, que ele retoma sua capacidade de investir.
Não retoma. Do R$ 1 trilhão de despesas anuais — que só vão aumentar e sobretudo em um governo seu —, só tem R$ 27 bi para investimento. E se decidir investir, ao invés de acreditar que é a iniciativa privada que gera emprego, renda e felicidade, está errado.
Mas devo dizer que, mesmo contrariando os tantos amigos apaixonados por Bolsonaro que me seguem, também tenho afinidades com as crenças comportamentais de Haddad. Que me são caras.
Como já escrevi certa vez, sou democrata em política, liberal em economia e anarquista em artes e costumes. Por azar, nessa eleição entre os dois mais rejeitados, Jair Bolsonaro é moderno em economia e reacionário em costumes. Haddad, o contrário. E ambos têm tentações autoritárias semelhantes. Com maior ou menor grau de explicitude, mas não desprezíveis.
Os dois podem tirar minhas dúvidas se tiverem mais três semanas para se explicarem.
Enquanto isso, vou fazer minha parte para ter segundo turno. Não votar em nenhum dos dois.
As últimas notícias
Impressionante a mitologia em torno de Bolsonaro no Twitter. Quase Deus. Na mesma dimensão da devoção que foi criada em torno de Lula.
A hashtag EuVotoBolsonaro no Twitter ultrapassou em poucas horas neste sábado à noite, em número de tweets (452 mil), a ViraViraCiro que estava no topo dos assuntos mais comentados desde a sexta-feira.
As últimas DataFolha e Ibope deram também à noite 40% e 41% dos votos válidos para Bolsonaro. Haddad estacionado entre 25% parecia não ter pedido espaço para Ciro, que se mantinha entre 11% e 13%.
A tuitada não parece ter sensibilizado o eleitor de Haddad a se mudar para Ciro, o único que venceria Bolsonaro, segundo as simulações de segundo turno.
A 10% da metade mais um, Bolsonaro precisa neste domingo de mais de 11 milhões de votos para vencer no primeiro turno.
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