Você pode achar que tudo o que se escreve é para ler, mas a provocação do título é proposital para estabelecer diferenças que para mim são claras.
Escrever para ler é a opção do literato, do escritor que está mais interessado em produzir literatura, um entretenimento de alto nível e alguma transcendência. Livro ou roteiro.
O sentido de vender para ele é secundário. Ser um escritor consagrado, um best-seller, é decorrência de algo que vai impactar a alma das pessoas.
Se não vender, ele não morre por isso. Consola-se com a ideia de que sua obra sobreviverá ao tempo e será lida um dia, nem que seja por seus filhos e netos.
Já escrever para vender é a opção do empreendedor, do escritor que tem alma de publicitário e está interessado em algo que dê dinheiro a curto prazo.
O sentido de vender é prioritário. Sua métrica é a da quantidade de vendas e seu produto, até para vender, mira resultados imediatos que façam as pessoas pagarem por ele. Pode satisfazer mais o corpo do que a mente.
Os dois parecem inconciliáveis.
Não dá para escrever literatura, no sentido de projeto de satisfação da mente, pensando em curto prazo. E vice-versa, não dá para pensar em resultado de longo prazo se se quer ganhar dinheiro rápido.
Os produtos derivados dos dois tipos de escolha são e devem ser diferentes, quase antagônicos.
Para simplificar, o texto literário busca reflexão, o texto publicitário visa convencimento. O produto da literatura sugere mudanças pessoais a longo prazo, o da publicidade quer entregar algo que você possa usar no dia seguinte.
Não se está falando da publicidade dos anúncios, mas dos livros que têm caráter de informação, formação ou desenvolvimento pessoal de curto prazo.
Podem ser de como perder peso, perder o medo de falar em público, ganhar mais dinheiro.
Você pode escolher ser um dos dois. Pela minha experiência e minhas circunstâncias, acho difícil o literato se converter às manhas imediatistas do curto prazo.
Mas, se você quer ganhar mais dinheiro e mais rápido, é a segunda opção a mais válida. Você não precisa ser um deles, mas são eles que têm mais possibilidade de trabalhar menos, em curto prazo, e ganhar mais.
Teorizar ou convencer
Fica mais claro no meu outro artigo, Como usar o poder da internet para ser um mensageiro milionário, em que falo da diferença entre o escritor e o consultor. O escritor é o que teoriza como fazer. O consultor ensina como.
Entre um livro que teoriza sobre como as pessoas falam em público e um que ensina como falar em público, em 20 passos, não é difícil saber qual será comprado primeiro pelo interessado em desenvolver a habilidade de falar em público para alavancar sua carreira.
E o preço dos dois será diametralmente opostos, em favor do que ensina.
Nos primeiros anos da explosão do marketing digital por aqui, causou furor a experiência do gaúcho Vinícius Posssebon, um personal trainer que vendeu milhares de um ebook por R$ 99,00, reajustado depois para 199,00.
Era apenas um pdf de 60 páginas com as técnicas de seu método revolucionário de perder barriga em dois meses em exercícios curtos de alta intensidade.
Eu vivi esse momento, nas minhas primeiras incursões em marketing digital, lá pelo ano 2012, e publiquei esse artigo: Possebon ensinou a emagrecer em 2 meses e a se vender em 5.
Qual escritor conseguirá vender no Brasil, em curto prazo e a um preço pelo um terço menor, o seu romance de 300 páginas, que pode ter lhe custado anos de noites mal dormidas?
A diferença está na capacidade das duas publicações de resolver ou não problemas mais ou menos imediatos.
Você certamente avaliará muito antes de decidir comprar um romance de R$ 40,00, que vai lhe dar um prazer que não precisa ser urgente. Mas certamente decidirá rápido se estiver decidido a acabar com a barriga em curto prazo.
Há outras coisas a se considerar, porém. Não se vende um pdf de 60 páginas por R$ 99,00 se não houver uma boa estratégia de marketing que explore bem o seu valor agregado, em que até o preço alto é também um ponto de venda, um carimbo de qualidade.
Onde que ser escritor pode fazer a maior diferença.
Contar uma boa história
As pessoas que estão conseguindo vender pdfs em preços bem acima dos livros didáticos ou de literatura estão utilizando estratégias de escrita criativa e uma coisa que só bons escritores conseguem: contar bem uma boa história.
Com a internet e as redes sociais, descobriu-se o paradoxo da globalização. Quanto mais acesso têm ao mundo, mais as pessoas se atém a grupos, a suas afinidades e a confiar somente em seus relacionamentos e em quem lhe conta uma boa história convincente.
Para vender o seu programa de emagrecimento, o cara passa então a contar a sua, a sua jornada do herói, de como era um rejeitado antes de enfrentar seus medos e inventar a fórmula que o redimiu. E o enriqueceu.
>>> Leia também Marketing 3.0 ou porque preferimos um smartphone a uma boa cozinha
No início dessa onda, ficou famoso o anúncio do sorvete Diletto, vendido como uma fórmula centenária passada através dos tempos desde um tataravô imigrante que se utilizava de ingredientes exóticos e gelo de neve.
Descobriu-se que era uma fraude do grande publicitário Washington Olivetto, ainda inocente dos riscos da mentira nesse caso, como critiquei no artigo O marketing de ficção de Washington Olivetto.
Dessa onda de contar histórias para vender-se a si próprios e os produtos, interdependentes, surgiu a expressão storytelling, que só uso como objeto de crítica. Por que resisto a chavões, substitutos baratos do argumento.
Contar histórias passou a ser determinante e um nicho a explorar. Em que publicitários com formação literária ou escritores com instinto publicitário passaram a se dar bem.
O que quer dizer que você pode contar histórias também para vender. Ou pode optar por continuar contando para ler. Mas convém saber das duas para tirar proveito dos dois lados.
Ideal dos mundos é que você consiga trafegar nas duas. Escrever seus livros para alma e dedicar parte do tempo para escrever peças que vendam, até mesmo para melhor a performance de seus livros literários no mercado.
Conhecer marketing digital e o que está acontecendo no mundo dos negócios da leitura só vai lhe fazer bem.
PS – Há duas grandes plataformas digitais para você publicar e vender, com técnicas de marketing agressivo o seu livro digital em pdf: Hotmart e Monetizze, de que tratarei em outros artigos.
Deixe um comentário