O bonitão Chris Noth é Peter Florrick, o procurador-geral do estado de Illinois em The Good Wife, a série americana que trata de corrupção no sistema penal de Chicago enquanto se desenrola a trama de sua campanha para governador e as sabotagens dos adversários para envolvê-lo em mais um escândalo sexual.
Sua mulher, Alicia Florrick, uma classuda do tipo Renata Vasconcellos (Julianna Margulies), é a esposa do título dividida entre os casos criminais do escritório em que trabalha, as atividades domésticas e o esforço de salvar as aparências.
Na quarta temporada, enquanto ensaiam uma reaproximação, ele é envolvido na falsa história de ter dormido com uma funcionária de campanha. Para apimentar a fofoca, no sétimo capítulo, a loura turbinada do caso deixa escapar que ele tem um mapa do Brasil marcado naquela área do corpo a que só ela e a good wife poderiam ter acesso.
Comida brasileira
A certa altura, o ótimo e inescrupuloso estrategista de campanha (Alan Cumming) tem o constrangimento de checar com ele, cheio de dedos, digamos assim, a veracidade do fato. Não será fácil escapar do ridículo qualquer que seja a resposta.
– Essa é uma armadilha política perfeita. Não podemos mandar o candidato dizer que não tem uma marca do Brasil no pênis. Não podemos mandar outras pessoas dizerem porque… como elas saberiam?
A gozação começa quando Alicia recebe uma ligação anônima sobre o que acha de comida brasileira. Na reunião algo patética com o estrategista, irritado, o procurador questiona como ainda pode haver dúvidas a respeito:
– Quer verificar?
A coisa acaba se resolvendo com o conselho da esposa de que ele responda com uma boa gargalhada e uma piada sob encomenda na TV. Uma comediante desbocada a quem Alicia salvara de um processo judicial desmoraliza a denúncia num stand-up sobre a anatomia masculina e a inconveniência de se desenhar logo um país como o Brasil nela. Estamos em 2012 e a falência da Grécia frequentava o noticiário econômico. Então…
– Passei a semana tentando convencer a minha advogada que não falaria sobre Brasil e pênis. Imagino que há marcas piores para se ter. Como Grécia. Quem quer um pênis que vive em recessão? Minha advogada diz que só parece com o Brasil quando está ereto. Caso contrário, é mais como New Jersey.
Anatomia de uma piada
Daria uma boa crônica tentar entender as razões do jovem e talentoso roteirista Craig Turk (em parceria com os criadores Robert e Michele King) em optar pelo país para agravar o ridículo da situação.
Pode ser pela anatomia referida no título do episódio (A Anatomia de uma Piada), uma referência talvez ao fato de o país estar abaixo da linha da cintura do globo terrestre ou ter uma estranha protuberância ao sul apontando eternamente para baixo.
Numa hipótese remota, pode ser que os roteiristas conheçam a fama de gigante adormecido em berço esplêndido do país e não tenham resistido à comparação com uma eventual impotência do procurador. Ou, na mais provável, cultivem a velha ideia de paraíso tropical de mulheres e praias exóticas que povoa a mente americana desde que Carmem Miranda aportou por lá.
Eu adoraria saber o motivo, mas não tem como. Não é o tipo de relevância que mereça matéria de nossa imprensa, uma reportagem do VídeoShow ou um making of dos produtores.
De qualquer forma, não acho que seja o caso de atacarmos a redação da CBS, para fuzilar os roteiristas, e nem convocar o embaixador para dar explicações.
Deixe um comentário