Sobre a entrevista da presidente Dilma Roussef no Jornal Nacional:
1. Ela escolheu roupa azul paz eterna, começou rindo, ameaçou truncar os lábios no início das perguntas duras de William Bonner, mas não perdeu o rebolado. Foi firme, segura, respondeu o que quis e não respondeu o que lhe perguntaram. Como Aécio, fez um tipo de horário eleitoral gratuito antecipado.
2. Não teve manha como os políticos tarimbados para dissimular e fingir que responde. Passar sumariamente pelas perguntas embaraçosas e emendar uma propaganda. Fez propaganda sem responder e o tempo inteiro.
3. Também não teve manha para dar uma resposta minimamente satisfatória ou dissimulada à questão de envolvimento do seu partido com corrupção. Como aquele tipo de surdo que ouve uma coisa e responde outra, repetiu que respeita os outros poderes e decisões do STF quando a pergunta era claramente sobre se respaldava a opinião do PT sobre a inocência dos envolvidos no mensalão.
4. Bonner e Patrícia Poeta não conseguiram dominá-la e interrompê-la. Não se importou de ser rápida para aproveitar o tempo, como fazem os políticos com mais domínio de TV. Me lembrou Aureliano Chaves, Ulysses Guimarães e Leonel Brizola nos debates, que ignoravam as perguntas e o tempo. Com isso, evitou mais perguntas, circunscritas a 3: corrupção, saúde e economia.
5. Se foi decisão dela ou de sua assessoria a escolha do Palácio e de sua Biblioteca como cenário, em oposição à bancada do Jornal Nacional, foi toque de gênio. Um marciano que chegasse à terra, tirasse o som e comparasse a entrevista dela com a de Aécio, na bancada do jornal, perceberia que ela ficou em vantagem. Para o povão, uma autoridade que está no lugar dela e querem tirá-la de lá. Se eu fosse assessor da oposição, não permitiria mais essa quebra de isonomia.
6. Sinalizou que vai carregar Lula em todas as respostas. Vai juntar os quatro anos dela com os oito dele para turbinar suas realizações.
7. Sinalizou que, contra as denúncias de corrupção, vai comparar a liberdade de atuação da Polícia Federal e da Procuradoria Geral em seu governo contra a fama de engavetador do procurador geral de Fernando Henrique Cardoso.
8. Bonner e Patrícia não tiveram constrangimento de serem duros, como foram com Aécio e Eduardo Campos, apesar do local e da autoridade. Ela é que os engoliu. Não pelo conteúdo, mas pela tendência ao didatismo e à prolixidade.
9. Suas melhores respostas foram as do engavetamento e de que sua política econômica enfrentou a crise sem arrocho e demissões. Apesar do final atropelado pela falta de tempo, quase constrangedor para ambos os lados, resumiu sua mensagem numa proposta atraente: um país mais moderno, mais produtivo e mais inclusivo.
10. Sobre a cobertura da imprensa:
- Folha e Estadão pegaram pelos delizes: “Dilma diz que saúde não é “minimamente razoável'” e “Dilma defende ministro sob suspeita”
- O Globo traduziu bem as escapulidas dela: “No JN, Dilma se esquiva de pergunta sobre mensaleiros”
- Veja também traduziu o que chama de dilmês – as frases longas para esquivar de temas espinhosos: “Dilma faz uso perfeito do dilmês no Jornal Nacional”
- Carta Capital saiu em defesa: “No JN, Dilma rebate críticas econômicas: ‘Enfrentamos a crise sem demitir'”
- Hoje em Dia e o O Tempo, idem: “Enfrentamos a crise sem demitir e arrochar salários” e “Dilma diz em entrevista que criou mecanismos contra a corrupção”.
- Época e Estado de Minas, como nas duas entrevistas anteriores, ignoraram o assunto.
PS – A entrevista pode ter sido péssimo programa jornalístico, de respostas incompletas e atropeladas, mas tenho dúvidas de que tenha sido ruim para ela e seu prestígio junto a seu eleitorado. Não assumiu nada grave e passou a imagem de uma pobre mulher que não deixavam explicar as coisas direitinho. Voltando ao marciano, era como ver uma velhinha didática, repetitiva, meio surda, se esforçando para falar mas não sendo entendida. E interrompida.
pedro diz
Você é burro. Faça um favor para a humanidade e não reproduza.
Nicole diz
Vc é fera mesmo, Ramiro!