Eike Batista tem jeito de aventureiro. Depois de alguns fracassos, como uma fábrica de jipes e uma transportadora de encomendas que seria a “Fedex” brasileira, começou a comprar ouro na Amazônia e vender em São Paulo. Em curto prazo, chegou a comprar R$ 60 milhões.
Quando começou a ficar – e não só pensar – grande, criou uma petrolífera para ser a “a nova Petrobras”, um estaleiro para fornecer navios ao transporte de sua produção que se transformaria na “Embraer dos mares” e uma mineradora para ser, ainda segundo ele, “uma mini-Vale”.
Na mineradora, tocou um projeto com toda a cara de faraó: a construção de um mineroduto de 525 km de extensão para ligar uma mina em Conceição do Mato Dentro ao norte do Rio de Janeiro, onde construiria seu porto particular.
Não deve ter se intimidado hora alguma com as dificuldades de toda ordem para comprar, indenizar, seduzir ou manipular proprietários e autoridades de centenas de pequenas propriedades por onde passaria, esbarrando em pés de fícus e tartaruguinhas do Ibama.
Montado num conglomerado de seis imensas empresas oceânicas com X, de petróleo (OGX), construção de navios (OSX), logística (LLX), mineração (MMX), energia (MPX) e carvão (CCX), achou de se aventurar em outra media dúzia de X para abarcar o mundo.
Além da exploração de ouro através da AUX, embarcou numa fábrica de semicondutores (em Ribeirão das Neves) e nos ramo de entretenimento, turismo e esportes. Comprou o Hotel Glória e um restaurante de comida chinesa, associou-se a Rubem Medina no Rock in Rio, fez associações com o Cirque du Soleil, entrou no consórcio para administrar o Maracanã e criou o próprio time de vôley. Nos últimos tempos, andava planejando implementar um projeto urbanístico na Marina da Glória.
Um Xanadu, como diz José Fucs nesta matéria da revista Época , a melhor já escrita sobre sua ascensão e queda.
Esse castelo de cartas começou a ruir quando o petróleo, que dá lastro à maioria das operações, começou a não jorrar como prometido. Ao invés de 20 mil barris diários por poço, como se projetava para 2011, os três primeiros poços não chegaram a produzir 15 mil.
Como naquele tipo de pirâmide que precisa de recursos novos para pagar os antigos, que mandou para a prisão perpétua o americano Bernard Madoff, o brasileiro começou a furar mais poços para vender a ilusão de que estava crescendo, ao invés de concentrar os recursos captados de bancos e investidores na melhoria da produção.
Como um sujeito como esse, de perfil mais aventureiro que de empresário consistente, consegue enganar tantos em tanto tempo? E, sobretudo, enganar uma raça esperta como empresários, investidores e especuladores, sabidamente cuidadosos com seu dinheiro e capazes de farejar oportunidades e riscos à distância?
É uma questão em aberto. Fora a ganância que cega, como sabem estudantes de psicologia e operadores da bolsa, tem algo de extraordinário na capacidade comunicativa de Eike Batista que merece bons estudos. Com direito a especulações metafísicas e antropológicas sobre a era do espetáculo, esta em que a capacidade de seduzir, fazer parecer e vender uma imagem suplanta a obrigação de ser correto e eficiente. E mascara todas as debilidades, subterrâneas ou óbvias.
Um dos figurões defenestrados do alto comando das empresas do bilionário contou à Veja que, numa reunião do início de 2012, ele pediu a um geólogo uma estimativa de reserva de determinado poço. O técnico resistiu a fazer uma previsão, porque o poço havia sido até fechado naqueles dias, por problemas de pressão. Mas Eike insistiu:
– Mas a quanto você acha que pode chegar? Dê um número.
O homem voltou a resistir e titubeou um número:
– Bem, pode variar de 150 milhões a 600 milhões barris.
A partir daí, o aventureiro que começou comprando ouro e acabou montando um time de vôley, começou a dizer para o mercado que tinha uma reserva estimada de 600 milhões.
Um estudo sobre sua capacidade de vender o que não tem e parecer gênio pode começar por aí.
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