Num dia de 2012, numa reunião do alto comando de suas empresas, Eike Batista chamou um geólogo e lhe pediu que fizesse para os presentes uma estimativa de produção dos poços de petróleo de sua OGX.
O homem titubeou, resistiu. Dos 30 poços perfurados para extrair 20 mil barris diários cada, um estava fechado e só três produziam apenas um quarto do previsto, 15 mil ao todo.
– Mas a quanto você acha que pode chegar? — insistiu. — Dê um número.
O homem voltou a pigarrear, titubeou de novo, e soltou o óbvio que, em condições ideais, poderia fazer algum sentido. Fez as contas do número de poços pela estimativa de cada e:
– Bem, pode variar de 150 milhões a 600 milhões de barris.
A partir daí, Eike começou a dizer para o mercado que tinha uma reserva estimada de 600 milhões.
Sua OGX era “a nova Petrobras”. Que compraria navios de seu próprio estaleiro, o OSX, que, nas suas palavras, seria “a Embraer dos mares”. Que também transportaria o minério de sua MMX, “uma mini-Vale”.
Por essa época, já com um império que incluía a LLX de logística, a MPX de energia, a AUX de ouro, a CCX de carvão e o esboço de uma fábrica de semicondutores em Ribeirão das Neves, começou a investir em outra penca de X (de multiplicação) no ramo de entretenimento, turismo e esportes.
Comprou o Hotel Glória e um restaurante de comida chinesa, associou-se a Rubem Medina no Rock in Rio, fez associações com o Cirque du Soleil, entrou no consórcio para administrar o Maracanã, criou o próprio time de vôley (o RJX) e andava planejando implementar um projeto urbanístico na Marina da Glória.
Era a fase de investimentos que lhe dessem mais visibilidade, como se fosse possível e necessário depois de mais de duas décadas de permanência no noticiário desde que apareceu na coleira da deslumbrante mãe de seus futuros filhos, no desfile das escolas de samba de 1988.
Por outros motivos.
Era um aventureiro talentoso e visionário, que começou a ver dinheiro comprando e vendendo ouro, depois de arrostar dois fracassos, uma fábrica de jipes e uma transportadora de encomendas que, na linguagem publicitária dele, seria “a Fedex brasileira”.
Chegou à sétima posição da lista milionários da Forbes, com patrimônio de US$ 30 bilhões, e uma prepotência de faraó, quando inventou de tocar um mineroduto de 525 km de extensão para ligar uma mina em Conceição do Mato Dentro ao norte do Rio de Janeiro, onde construiria seu porto particular.
O de Açú, cujas mirabolantes transações com o governo do Rio de Janeiro, que resultaram na sua prisão, acabam de demonstrar que precisou mais do que talento, visão e espírito de marqueteiro para impulsionar seus negócios.
Talento comunicativo
Em julho de 2013, quando se tornou público que seu castelo de cartas começava a desabar, na esteira do fiasco de produção da petrolífera, especulei em um artigo sobre seu talento comunicativo.
Era mais espanto sobre a capacidade de enganar tantos em tanto tempo, sobretudo “uma raça esperta como empresários, investidores e especuladores, sabidamente cuidadosos com seu dinheiro e capazes de farejar oportunidades e riscos à distância”.
>>> Veja o artigo Eike, o aventureiro, é um bom caso de estudo
Hoje, imagino que acabou por enganar a si mesmo, enredado na armadilha que acomete todos os homens públicos. Acabam por acreditar mais na comunicação ou no seu poder de persuasão do que da necessidade de produzir e inovar.
Seus críticos mais consistentes culpam sua diversificação irresponsável, a pressa de cavar mais poços e abrir novas frentes de investimentos para vender a sensação de crescimento e mascarar os problemas. No que acrescento os de visibilidade turística, de rentabilidade discutível.
Estava fazendo comunicação da pior maneira. Gastando tempo, energia e dinheiro para manipular, ao invés de sentar, trabalhar e concentrar no que interessa.
Homens como ele e Silvio Santos constroem impérios com saliva, mas divergem diante da tentação de serem ou não mais importantes que seus negócios. Silvio Santos, um recatado de vida quase espartana, não caiu na tentação.
valdir diz
O curioso, para não dizer outra coisa, é que todos vocês, empresários e também a classe política – Aécio, por exemplo – o idolatravam e pagavam pela companhia dele, ainda que em fotos em eventos festivos. Os sérios e bem informados sabiam qual seria o desfecho. A Vale, do pai dele, sempre mandou nas reservas minerais deste País; portanto, conquanto que negado por ele, sabe-se muito bem onde tudo começou. Agora não é justo apedrejá-lo, pois o dito popular que diz “cão danado todos a ele” é próprio dos oportunistas ou convenientes.
Cristiano Marques diz
SS pode até ter uma vida espartana mas se enrolou todo no Banco PanAmericano.
Fraude escandalosa bancada pelo governo Lula.
Guardadas as proporções de investimentos, Silvio Santos e Eike empatam na megalomania.
Cristiano Marques diz
O que tem a ver Sérgio Cabral com lava-Jato?
Eike se meteu com a Petrobrás mas e o ex-governador do Rio?