Na parte mais aplaudida de seu discurso de 10 minutos perante os deputados na Assembleia Legislativa do Paraná, que bombou na internet, a jovem Ana Júlia Pires Ribeiro disse e repetiu que uma escola sem partido é uma escola racista, é uma escola homofóbica.
Data venia, é o contrário.
Uma escola sem partido é que a ensina o aluno as origens do termo, sua conjuntura, suas implicações atuais, suas relações de poder numa sociedade plural, seu uso inclusive em manifestações de estudantes que ocupam escolas. A pensar, em suma.
Uma escola com partido é a que faz luta ideológica para um lado ou outro e conduz a certa militância contra o status quo. Em que a luta política e mobilização para mudar, independente do quê, é mais importante do que entender a fim de que aluno tire suas próprias conclusões.
Pode ser que a escola de Ana Júlia não seja partidária e nem que os estudantes que a ocupam sejam doutrinados, como ela firmemente rechaçou. Seu discurso, porém, é totalmente político, como ela também firmemente confirmou.
Difícil acreditar que seu pronunciamento emocionado e redondo não seja produto da influência de seus professores, porque é como se aprende na escola, mas esse não é o principal problema.
Capacidade de reflexão
O maior é não gastarem boa parte do tempo nas ocupações para entender de fato a proposta de lei da reforma do ensino médio e tirar uma posição mais consequente contra ela que não seja apenas a luta política. Os professores prestariam grande serviço ao país se os ajudasse a pensar sobre os prós e contras reais da proposta, não se o governo devia ou não deveria tê-la proposto.
Não se conhece a opinião dos alunos sobre as implicações dos dispositivos propostos. Todo o discurso disponível é sobre o óbvio de melhoria da escola, valorização dos professores e reforma mais ampla — e genérica — do sistema como um todo.
O único ponto em que avançam mais um pouco, sem bem explicar por quê, é sobre o fim da obrigatoriedade de matérias suplementares como arte, educação física, filosofia e sociologia, além da possibilidade de se contratar professor por notório saber.
O espírito da proposta do governo é forçar o foco no que interessa nessa fase do aprendizado, em que o aluno se prepara para um carreira profissional. Permite à escola oferecer cinco possibilidades de áreas em que o aluno queira empregar mais tempo: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.
Claro que desenvolver o gosto por arte e filosofia como condição de ampliar a capacidade de reflexão faz falta a qualquer profissional, mas não obrigatoriamente nessa fase.
É bom ou ruim? Quais os pró e os contras? Estudar Filosofia e Artes nessa fase faz sentido para quem tem pressa de se formar Técnico em Eletricidade ou em Enfermagem ou Informática? Não seria mais conveniente que essas matérias estivessem em outro ciclo, anterior ao Ensino Médio. Não são elas também específicas sujeitas ao interesse do aluno em fazer carreira em uma delas, mais tarde?
Sobre a rejeição ao professor sem formação, como não têm uma posição muito clara sobre os prós e contras, é possível acreditar que estejam ecoando os interesses de seus mestres, que podem estar simplificando a questão para manterem o emprego.
São só dois exemplos do que os estudantes poderiam muito bem procurar entender melhor, com a ajuda de seus professores.
Discussão com mais prazo
Onde o discurso da meninada mais acerta é no fato de que o governo não deveria ter mandado como medida provisória algo que precisa ser discutido com mais prazo sob os mecanismos mais elásticos de um projeto de lei. Mandar uma proposta desse porte goela abaixo do Congresso e da sociedade, para os 45 dias sumários de discussão de uma MP, é querer polêmica.
Mas nisso também há farto material a ser pesquisado e compreendido.
Seus professores poderiam ajudá-los a entender também porque o governo sempre opta por medidas provisórias. Aprenderiam que projetos de lei de assuntos complexos, em que não há pressão de tempo e obstrução de outras matérias, levam anos para serem analisados e aprovados, como foram, por exemplo, a reforma do Código Civil, dos anos 40, e a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Pela experiência brasileira, mandar um projeto de lei sobre uma reforma mais ampla do ensino médio ou da educação como um todo é como tentar resolver os problemas seculares de racismo e homofobia da nossa sociedade. Mais ou menos sinônimo de não querer vê-la aprovado tão cedo.
É o que a meninada quer?
Mateus diz
Quem deveria explicar a população a reforma do ensino é a imprensa, o jornalismo, apontando contrapontos, prós e contras, qual impacto que será causado na população, positivo ou negativo. Ana Júlia fez apenas um discurso em uma assembleia. Ela tinha um tempo para falar e falou o que achava necessário. O discurso da moça deveria servir ao menos para promover um debate, ´serio, maduro e civilizado. A pauta EDUCAÇÃO deveria ser do interesse primordial de toda população, de esquerda, direita, de cima, debaixo, a nordeste, noroeste, leste….
O que eu vejo é jornais e pessoas ditas entendidas e lambe botas desse governo que está ai, descaracterizar o discurso da moça, reduzir como algo menor, em consequência disso o movimento dos estudantes. É interessante para parte da mídia, que pessoas não tenham discernimento, assim podem publicar e dizer o que bem entendem sem contestação, assim como governantes pensam que podem fazer o que querem e as pessoas abaixarem a cabeça
Faz muita falta um jornalismo que se preocupa em explicar a população sobre os principais assuntos tratados pelo governo. Um jornalismo que expõe contrapontos, ideias, discursos INTELIGENTES e diferentes.
Muito jornalista criminaliza o movimento dos alunos secundaristas, mas aplaudem de pé quando uma parte da população rica faz manifestação na avenida paulista, regado champanhe para pedir a deposição da presidente.
joao diz
O discurso dessa menina é tão inocente, para nao dizer idiota, que nao sei como ainda deram destaque a ele. Por favor vamos olhar para frente, e pensar e grande.
Chega de dar importancia a pessoas imaturas como essa.
valdir diz
Não é justo fazer generalização; portanto, não é impossível que Ana Júlia, ainda tão jovem, tenha sido sincera e também se entendido legítima, mesmo em se tratando de questão tão importante mas também difusa, visto que o aprendizado e o desenvolvimento da capacidade crítica não constitui monopólio da escola formal, Todavia, como não estamos no campo das ciências exatas, por exemplo, de fato não seria exagerado conjugar com a hipótese da doutrinação, cuja inconveniência não comporta rótulos, seja de esquerda ou de direita. É que a experiência de vida constitui fator importantíssimo para se fazer um diagnóstico adequado e um prognóstico realizável. Daí, valer lembrar Cora Coralina, para quem “O saber se aprende com os mestres, a sabedoria só com o corriqueiro da vida”. Logo, como a moça é ainda muito jovem, fica a a dúvida e a preocupação sobre como vão proceder nossos representantes, absolutamente interessados apenas em agradar pela consequência do voto que os mantém onde estão.
Paulo diz
Qualquer posição, venha de onde vier, mesmo sendo de jovens que se sentem totalmente perdidos nesta sociedade escravocrata, da qual o senhor Ramiro e seus seguidores se orgulham tanto, jamais será entendida e muito menos compreendida pelos velhos senhores e senhoras. Eles, os jovens, se querem um mundo diferente, infelizmente terão que conquistar a duras penas. Nesta coluna não se vê nada além de conservadorismo, visão ultrapassada de mundo. Demonstra que seu autor está esplendidamente preparado para viver num mundo que não mais existe. Aprendeu bem, mas não é capaz de continuar aprendendo. Lamentável!
Fernando diz
Eu desisti desse país e só acompanho as notícias por alto.
Mas gostaria de aproveitar o espaço para deixar claro que tenho certeza que assim como eu (tenho 33 anos) a maioria que saiu do ensino médio nos últimos 15 a 20 anos não aproveitou nada, eu digo nada mesmo, de aulas como Filosofia, Sociologia e Artes. Educação Física ainda acho que era muito bom para dar aquela espairecida da sala de aula e exercitar um pouco. O problema real é o conteúdo dessas matérias. Elas são pessimamente trabalhada nas escolas. E isso é culta da qualidade dos professores e provavelmente do que o governo define sobre o que deve ser ensinado. São ministrados conteúdos que não agregam nada ao currículo estudantil de forma realmente efetiva. Outra grande verdade é que a maioria das pessoas não gostam de estudar e este sistema de ensino alimenta ainda mais este desgosto. Então, se houver uma maneira de orientar os estudos para o que realmente importa e será usado pela pessoa, não há nada de mal mesmo nisso.
Afonso Lemos diz
Eu estava numa loja outro dia e uma estudante entrou pedindo doações para manterem seus colegas que ocupavam uma escola. Quando a moça (de uns 16 anos) se dirigiu a mim para pedir, eu disse a ela que eu não contribuiria porque não concordava com o que estavam fazendo. Conversa vai, conversa vem, conclui que a menina estava lá por causa de algum professor aloprado contrário à PEC 241. Ela mesma estava perdida na conversa, não sabia de nada, uma criança monitorada por um professor comunista fazendo o contra. Apenas o contra. Não querem discutir nada, não querem dar polimento a nada, apenas fazer oposição.
Marcílio Cosme diz
“O tio SAM agradece”. Já é tempo de se abandonar ciumeiras socio/econômico/esquerdopatas e demais teorias da conspiração contra os Estados Unidos e aceitar
que o modelo americano vingou, prosperou e por isto é a maior economia do planeta. Ao invés de ficarmos patinando em tentativas ideológicas equivocadas, tendendo ao comunismo (roedor de finanças e assistencialista para manter cabrestos), deveríamos considerar a meritocracia, o empreendedorismo, a batalha individual em universo capitalista. O câncer social é esperar que o Estado tome ‘conta das nossas contas’ – burrice que faz com que este elefante branco, cuja maior fonte de renda é a esfoliante política fiscal, nos oprima para se locupletar.
lAERTES DUCA diz
ESTÁ HAVENDO MUITA MANIPULAÇÃO PARTIDÁRIA DOS ESTUDANTES.. OS JORNALISTAS DEVERIAM FAZER UMA ENQUETE DE PELO MENOS TRES ESTUDANTES DE ALGUMAS ESCOLAS E PÚBLICA´-LAS PARA OS LEITORES TEREM UMA IDÉIA MELHOR DO QUE ELES PENSAM. ESTÃO SENDO MASSA DE MANOBRA DA ESQUERDA BARULHENTA.
leon diz
Essa menina é um projeto de Terrorista, assisti o vídeo dela e ela fala em organizar atos de desobediência civil.
José Carlos diz
Parabenizo pelo artigo, no entanto, acredito que está havendo uma omissão imensa da imprensa, principalmente da falada, pois é necessário entrevistar, ao acaso, os alunos que estão protestando para se ter uma ideia se eles sabem o conteúdo do que estão contra. Eu perguntei pra vários estudantes e a principal resposta é que que não sabem praticamente nada do conteúdo e estão ali porque querem protestar contra o governo Temer, apesar de não saberem o porquê. Em um país em que os menores não são responsabilizados pelos seus atos, os prejuízos causados por eles são pagos por toda a sociedade. Quando visito outros países, imagino que o Brasil é um país de loucos. Não vemos que estamos formando um país de bandidos adolescentes que não deixarão de ser bandidos o dia em que completar 18 anos. Hoje não temos hierarquia em casa e muito menos na escola. Pais não podem educar os filhos e professores são mais reféns que educadores. A imprensa tem um papel fundamental para se mudar isso, mas não estou vendo interesse nessa mudança, por isso acho que a maioria estão mesmo loucos.
Observador dos agentes imperialistas diz
Batista, em 1971 houve a reforma do ensino brasileiro e eu ouvi o mesmo que você está dizendo. Mais tarde fui entender o porquê dessas premissas: vamos nivelar por baixo a educação do jovem brasileiro, pois só assim conseguiremos no futuro comandar um grupo de analfabetos funcionais. O Tio SAM agradece.