Quem escreveu o quê no discurso de Dilma Rousseff no Dia da Mulher, quase abafado pelo buzinaço/panelaço?
Leio que foi serviço de seis mãos, numa mistura perfeita de técnico, político e marketing: o ministro da Fazenda Joaquim Levy, o chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante e o marqueteiro João Santana.
É interessante tentar detectar onde está a mão de cada um:
– Joaquim Levy. Mais óbvio. Tudo o que diz respeito à necessidade do ajuste fiscal, seus dados técnicos e as causas do desarranjo da economia, centradas na crise internacional e nos problemas de água que acarretaram inflação de energia e alimentos.
Nos seis primeiros anos da crise, crescemos 19,9%, enquanto a economia dos países da Zona do Euro, caiu 1,7%. Pela primeira vez na história, o Brasil ao enfrentar uma crise econômica internacional não sofreu uma quebra financeira e cambial.
– Aloizio Mercadante. Mais ou menos óbvio. Todo o discurso de fazer ajuste sem sacrificar os pobres (a inclusão da classe média, que não é o cliente típica do PT, deve ser coisa de João Santana) e o mantra de que a corrupção está sendo investigada de forma ampla e livre.
Foi por isso, que começamos cortando os gastos do governo, sem afetar fortemente os investimentos prioritários e os programas sociais. Revisamos certas distorções em alguns benefícios, preservando os direitos sagrados dos trabalhadores.
– João Santana. Menos óbvio e mais sutil. Parece ter dado todo o escopo do pronunciamento, mas suas digitais parecem mais óbvias nas preocupações de nivelar a presidente com os telespectadores, assumir erros ainda que de forma acanhada (não é do DNA do PT) e vender utopia. Início, meio e fim, afinal.
É uma boa hora para que eu tenha uma conversa, mais calma e mais íntima, com cada família brasileira. (…) Tudo isso, eu sei, traz reflexos na sua vida. Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é passageira. (…) Você que é dona de casa ou pai de família sabe disso. Às vezes temos de controlar mais os gastos para evitar que o nosso orçamento saia do controle. (…) Não estamos tomando estas medidas para voltarmos a ser iguais ao que já fomos. Mas, sim, para sermos muito melhores.
Foi um pronunciamento, digamos, redondo. Com razoável convicção das dificuldades do país, do processo inevitável de correção de rumo e dados bastantes convincentes de que ainda não estamos no fim do mundo. Sem empáfia, sem a tentação comum deste governo de culpar adversários. E com um raro cuidado com a imprensa.
Os noticiários são úteis, mas nem sempre são suficientes.
Vídeo do discurso neste link >>>
Texto do discurso neste link >>>
O problema da presidente é, a essa altura, falta de legitimidade. Desde que veio afundando em suas contradições, a partir do segundo turno das eleições, tudo o que diz, por melhor que seja sua intenção, parece ter efeito contrário.
É um estágio perigoso que Fernando Collor de Mello viveu quando pediu a brasileiros que fossem de verde e amarelo às ruas. Deu preto.
Como esse buzinaço misturado a panelaço e vaia.
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