Márcio Noronha é um dos maiores analistas técnicos, o cara que prevê o comportamento dos preços das ações em bolsa apenas pelo movimento dos gráficos. Despreza qualquer relação conjuntural ou os fundamentos contábeis das empresas.
Chegou a dizer que o ideal é operar dentro de uma quarto fechado, onde só tenha acesso a uma tela com os gráficos e um microfone para autorizar compras e vendas. Quando o índice da bolsa estava em torno de 68 mil pontos, em 2010, previu que, se passasse de 69 mil, venderia tudo, porque viria a 48 mil. Como veio e por onde andou patinando um bom tempo.
Trabalha com pontos de suporte ou resistência dentro dos gráficos, limites da pressão psicológica por comprar ou vender que pode empurrar os preços para cima ou para baixo.
Se o preço das ações da Petrobras estão estacionados, por exemplo, em torno de R$ 16,00, significa que ele fez um ponto de suporte ali e há tanto pressão vendedora quanto compradora o mantendo estacionado. Quando rompe para cima ou para baixo, significa que umas das pressões venceu a luta e as cotações disparam em igual sentido. Para quem está de fora e não vê gráficos, significa que uma grande manada de investidores, pequenos e grandes, foi atrás.
O que significa dizer que não é possível provar de forma consistente que a queda de Dilma Rousseff nas pesquisas implique o imediato otimismo das bolsas, como tentou convencer a última Veja, em matéria de capa.
A tese é que a desaprovação de seu perfil intervencionista e estatizante abriria na cabeça dos grandes investidores perspectivas para um candidato liberal, mais afinado com a livre iniciativa, o respeito aos contratos e a liberdade dos mercados.
A certa altura, diz que “as reações da semana passada mostram que em outubro estarão em julgamento pelas urnas os resultados sofríveis da gestão estatizante e intervencionista do governo Dilma e as propostas mais modernas e arejadas do mineiro Aécio Neves e do pernambucano Eduardo Campos”.
Não parece ser bem assim.
Primeiro que o grande empresariado brasileiro não gosta de livre mercado, mas de conseguir alguma forma de negociar com o governo. Segundo, que nunca esteve tão bem servido como agora com a derrama até meio irresponsável de recursos do BNDES, que premiou até investidores temerários como Eike Batista. E, terceiro, que os índices das bolsas sobem e descem quando os preços estão baratos ou caros, sofrem infinitas pressões psicológicas em suas linhas de suporte ou resistência, e não porque o governante de turno é feio ou bonito.
Tome-se o exemplo da Petrobras. Uma das maiores falácias é dizer que suas ações em bolsa caem ou sobem por conta do perfil mais ou menos liberal do presidente da hora. Nem é certo dizer que Aécio Neves e Eduardo Campos, pelo que já declararam, agiriam de forma diferente no caso da Petrobras.
Certo é dizer que caem por má governança. Os investidores percebem que a empresa está indo para o buraco e procuram se desfazer de seus papéis. Mas por que, então, sendo ruim o governo, elas também sobem?
É porque nas bolsas, para cada 1.000 ações sendo vendidas, 1.000 estão sendo compradas. Para que alguns vendam é preciso que outros comprem. Ou: para que haja pessimistas vendendo, é preciso haver mil otimistas comprando. E não dá para dizer que os pessimistas definam o perfil do governo. Os pessimistas de hoje podem ser os otimistas de amanhã.
E ainda acresce que a Petrobras é a ação mais pulverizada do mercado, com milhões de pequenos investidores. Difícil traçar um perfil ideológico desse grupo multifacetado. O que os une, como qualquer manada, é o medo de perder e a ambição de ganhar. Se o preço está alto, vendem; se está baixo, compram. Para isso, se valem de informações e boatos sobre a saúde da empresa. Muitas vezes, um governo intervencionista que vá proteger a empresa estimula mais a subida que a descida.
Também é falácia dizer que as ações da Petrobras se movimentam pela ganância dos especuladores. A maioria de quem está na bolsa especula, porque é da natureza do negócio. E isso vale para os milhões de pobres coitados cotistas da empresa, o grosso da manada. São conhecidos como sardinhas, sempre atrás dos tubarões.
O que seria mais conveniente tentar explicar, isso sim, é como Dilma Rousseff pode estar se dando mal exatamente na área em que fez fama de especialista – o sistema elétrico/energético. Aí sim é possível provar a sua discutível competência gerencial e suas crenças anti-capitalistas.
Até aqui, a melhor explicação para a falência dos dois setores é seu viés meio anos 50, meio Ernesto Geisel, que sufoca e usa as empresas para obter resultados populistas fora da contabilidade delas.
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