É conhecido o poder do presidente Michel Temer para despachar pela janela as crises que entram pela porta.
Refinou em mais de 40 anos de vida pública um método para quebrar arestas, atrair aliados e desmobilizar adversários. Pode ser resumido em não ter preconceito para conversar até o limite com quem quer seja e se colocar no lugar do interlocutor, sobretudo no meio da crise.
Um método clássico das raposas de bastidor.
Na primeira e grande guerra pública em que se meteu, que quase lhe custou o mandato presidencial, mostrou também que sabe atacar perante a opinião pública quando preciso e manobrar como os estrategistas que, para o bem ou para o mal, assumem a história.
Desde que pensou em renunciar e convocar eleições diretas, no dia seguinte ao vazamento da delação bomba de Joesley Batista, até a noite em que registrou em discurso conciliatório a vitória que parecia impossível na Câmara, deixou um monte de lições sobre essa arte, que resolvi resumir em dez. Pelos menos as mais ostensivas.
Conhecendo-se a natureza dos homens, como diria Maquiavel, você pode adotá-las em momentos de crise, política ou não, na sua vida pessoal, na carreira profissional ou no seu negócio.
- Reúna seu exército, aquele time de pessoas próximas em que você pode confiar cegamente, e delimite o tamanho do terreno e do volume de aliados (o outro exército) a ser conquistado. Foi nas primeiras horas, entre o grupo restrito de assessores palacianos desanimados, que o chefe da Secretaria Geral do Governo, Moreira Franco, deu a deixa: “isso é uma guerra e não vamos fazer o jogo deles”.
- Crie um inimigo comum para esse grupo e para o exército que você precisa conquistar. Rodrigo Janot foi o caso. Todos os deputados de quem Temer dependeria para rejeitar sua denúncia na Câmara têm o procurador-geral como símbolo de um sistema que quer acabar com eles.
- Receba todo mundo, converse com amigos e inimigos, e atraia os confiáveis com brindes e promessas, porque, em tempos de crise, mesmos os confiáveis costumam aproveitar a oportunidade para cobrar dívidas em atraso. Temer fez maratonas que entrou madrugadas, de segunda a segunda, com o máximo possível de deputados que poderia ouvir, disposto a atender a todos os seus pedidos em atraso, sobretudo os de liberação de emendas parlamentares ao Orçamento.
- Ameace os pouco confiáveis, que podem ter motivos sinceros ou escusos para traí-lo. Estratégia também conhecida como “abraço de afogado”. Diga ou deixe que alguém diga que, se você cair, eles também podem. Como poderia ser dito ao principal interessado na sua queda, Rodrigo Maia, por exemplo: “se eu cair, o próximo da flecha de Janot é você”. A Fernando Henrique Cardoso, que andou defendendo sua renúncia, poderia dizer: “se eu cair e Rodrigo Maia subir, ele toma o lugar do PSDB na eleição 2018“.
- Monitore os confiáveis e os não confiáveis. Mande um assessor ou ministro acompanhar a batalha de perto, para ver e ser visto, como antídoto contra a tentação de traição. Se preciso, monte uma planilha de adesões. Temer liberou o ministro da Secretaria do Governo, Antônio Imbassahy, para voltar à Câmara com uma lista de pedidos debaixo do braço., Durante a votação, manteve a desculpa de que o governo só checava os pedidos. O ministro da Casa Civil, expert em contagens potenciais de voto, se encarregou de algo parecido com uma planilha.
- Faça saber que você está de olho. Mais do que a transmissão ao vivo da Globo, os políticos temem o risco de represália governamental e de cairem no caderno vermelho dos ministros. Claro que se informou à larga que Temer estava acompanhando tudo e cancelara a agenda para acompanhar a transmissão da votação pela TV.
- Vencida a batalha, mostre generosidade e divida os louros. Como no pronunciamento, feito logo em seguida.
- Nunca fale em retaliação, mas não deixe de fazê-la seletivamente. Tire os cargos de deputados obscuros de partidos menores de que não vá precisar, como fez no caso da demissão do apadrinhado no Dnit de Santa Catarina do deputado Jorginho Mello (PR-SC). Arranje um discurso para perdoar a traição daqueles de que precisará, como os dos PSDB, por exemplo.
- Seja contemporizador com o traidor elegante que apresentou uma justificativa honesta ou partidária para votar contra ou se abster (Rodrigo Pacheco). Mas trate sem dó o que se ausentou por covardia (Osmar Serraglio) ou mentiu (Alice Portugal) e nem espere nada deles, porque não lhe servirão para nada e nem terão apoio dentro do partido para prejudicá-lo. Tente premiar os adversários que lhe prestaram apoio inesperado, mesmo contra orientação do partido (Teresa Cristina, do PPS). A aguardar as reações de Temer a respeito.
- Comece o dia seguinte com projetos grandiosos e ousados, para sinalizar que o pior passou, que tem grandeza para não guardar mágoas e reduzir a tamanho irrelevante para a história, ainda que não seja, a guerra que enfrentou. As reformas política, tributária e da Previdência foram um bom começo.
Comunicação & Poder
Rodrigo Maia tirou a impressão de que conspirou para aproveitar a fragilidade de Temer e operou para ser seu substituto, em entrevista na Folha de S. Paulo. Bateu duro no repórter que lhe perguntou o porquê das informações de que havia conspirado e depois recuado. Ele:
– Porque vocês apuram mal. Se vocês apurassem bem, você ia ver que eu nunca me mexi para governo Maia algum.
Crime e poder
Ah, tem o país que funciona. Jorge Paulo Lemann, um dos donos da Inbev e da Heinz, que produzem a maioria de nossas cervejas e o principal ketchup do mundo, disse que está confiante no país em evento na sua fundação que já deu 650 bolsas a estudantes em faculdades de ponta.
Não é sorte ou destino que o setor de varejo, que passa longe dos políticos e de Brasília, acredite no país.
No outro país que caminha com trabalho.
Luiz diz
Troquemos o enunciado para “Deslições” da vitória de Temer.
Jose Geraldo diz
Salve Temer! Guerreiro que destruiu completamente o PT. Bolsonaro 2018!
thiago diz
1- O Brasil já mostra sinais de melhora, mesmo com pouco tempo de mudança de governo.
2- As prostitutas não se vendem para destruir os trabalhadores (comparação mais estúpida!)
3- Se é só pagar, por que a Dilma sofreu o impeachment? e quem é que está “tirando onda”?
Douglas diz
Ramiro, lendo sua admiração pela manobra de Temer, fico frustado mas não surpreso, pois às vezes leio seus textos e já deu pra traçar seu perfil. Você o apresenta como grande general, astuto manobrador na arte da guerra, quase um homem honrado, quando na verdade ele é apenas um bandido que gastou 14 bilhões do dinheiro dos nossos impostos para comprar estes outros bandidos que estão no congresso e salvar seu pescoço. Ele não é acusado de “pedaladas fiscais”, ele é acusado (e com provas: gravações da própria voz, dinheiro na mala filmado pela Polícia federal) de corrupção passiva e obstrução de justiça Esta conta virá sobre nós, como já indica o ministro Meirelles, solicitando o aumento da alíquota do imposto de renda para 35%. Uma hora vocês terão de parar de jogar a culpa do descontrole do país sobre os governos do PT, pois eles estão ficando cada vez mais distantes no passado. Já deu muito tempo para esta turma que está no poder mudar os rumos e o país continua afundando cada vez mais e mais.
Rogério diz
A licao mais importante voce nao disse: Esses políticos sao iguais a prostitutas, se vendem para destruir os trabalhadores. Fácil demais comprar votos com dinheiro público, né nao…
Ricardo diz
Tudo besteira!
A única lição é de que a maioria tem um preço, é só pagar e depois ficar tirando onda de mestre dos jogos.
cristiano marques diz
Temer é discípulo de Sarney.