Descoberta de que houve pressão pela compra de empresa envolvida em fraudes pode abalar a tese de que governo não agiu por convicção ao barrigar outras vacinas
É possível que o descontrole de Bolsonaro ontem em Guaratinguetá tenha um motivo mais forte do que as repercussões dos protestos de sábado e das 500 mil mortes que lhe atribuem.
A CPI da COVID está avançando na suspeita de que pode ter havido corrupção no interesse exagerado pela compra da vacina Covaxin, da Índia, na contramão do desinteresse pelas outras.
É o único caso em que o governo não reclamou de preço, se propôs a pagar mais do que o valor das outras e as negociações se davam, não diretamente com o laboratório, mas com uma empresa intermediária.
A Precisa, que já esteve envolvida em denúncias de fraude na venda de R$ 21 milhões em testes rápidos para o governo do Distrito Federal. Um de seus sócios, Francisco Maximiano, está com os sigilos fiscal, telefônico e telemático quebrados pela CPI.
Já se sabe que o encarregado no Ministério da Saúde pelas providências da importação vinha sendo pressionado além do normal, em linha inversa ao interesse pelas outras vacinas.
É também sintomático que o principal negociador dentro do governo, Ernesto Araújo, tenha tentado suspender no STF a quebra de seu sigilo. Primeiro, geral. Depois, só até março passado.
Se vier a ser caracterizado que o governo agiu por corrupção e não por convicção, ainda que equivocada, é uma bala de prata na honorabilidade do presidente que tenta se manter em cima — e apenas — do discurso de que é diferente e honesto.
>Publicado no Estado de Minas, em 2/6/2022
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