Como garçons e juízes de futebol, jornalistas são tão bons quanto menos se falem deles. Mas Helena Chagas bem que deveria ter merecido um velório com algum choro e vela dos colegas da imprensa na sua defenestração da chefia da Secretaria de Comunicação do governo Dilma, por motivos desconhecidos.
Ela recuperou para o cargo já ocupado até por diplomatas a discrição, a dignidade e a eficiência que se haviam perdido no governo Lula. Seu antecessor e ex-guerrilheiro Franklin Martins parece ter chegado ao posto com algo de rancor por sua demissão da poderosa Rede Globo e o usou para atiçar – ao invés de amainar – as naturais resistências do poder jornalístico com seu chefe.
Lula talvez não reconheça, mas poderia ter tido outra história com a imprensa se tivesse tido um assessor que estabelecesse e não detonasse pontes com os jornalistas.
Ela, ao contrário, restabeleceu as pontes dinamitadas, atraiu os colegas de volta ao convívio civilizado com o Palácio e é certamente responsável por muito da boa vontade das redações com sua chefe. E olha que deve ser mais difícil tornar dócil e palatável alguém de trato difícil como ela.
Fazer análise em retrospectiva é tão arriscado para um jornalista quanto fazer prognósticos, mas é bem possível que a imagem irrecuperável de Lula com a imprensa teria sido outra, se estivesse nas mãos de alguém menos Franklin Martins e mais Helena Chagas.
Profissionais de assessoria de imprensa, como eu, sabem que é mais fácil levar um sujeito dócil e generoso com os amigos, aliados e subordinados como ele, do que alguém turrão como Dilma.
Não foi a primeira vez que Helena foi abatida em pleno voo. No início dos anos 90, num carreira em ascensão dentro de O Globo, botando para quebrar em Brasília, ela era a substituta natural de Carlos Castelo Branco na coluna de bastidores políticos.
Vinha substituindo com um texto leve e cheio de frescor as crônicas vetustas do patrono do colunismo político, morto em 1993, mas teve que ceder o lugar para Merval Pereira, apeado naquele ano da direção geral do jornalismo do grupo. O jornalista assumiu o espaço nobre com um texto pesado como o de Castelinho, como se a direção do Globo considerasse prolixidade como sinônimo de respeitabilidade.
É possível que O Globo também fosse outro e apanhasse menos do que os julgam conservador demais se a tivesse mantido nesse espaço notoriamente influente.
PS – Única explicação
A única coisa que li sobre as razões de sua saída, num blog que apóia o Planalto, O Cafezinho, lhe serve de elogio apesar de sua intenção contrária. Ela seria culpada por retirar o apoio a esses veículos, que ele chama de “publicações com ideias diferentes”, fartamente patrocinados com verbas públicas no governo Lula:
“É uma ministra absolutamente técnica numa pasta essencialmente política. Sua própria presença lá representava um posicionamento oficial extremamente conservador, e flertando com a covardia, visto que ela controlava instrumentos que poderiam servir para enriquecer o debate político, e não os usou. Ao contrário, a Secom viveu um duro retrocesso político durante a sua gestão. Várias revistas e publicações comprometidas com ideias diferentes foram abandonadas. Adotou-se um critério técnico que só beneficiava as corporações midiáticas, cujo poder financeiro foi consolidado num regime de exceção.”
Aqui também, percebe-se em linhas cruzadas, que ela restabeleceu o primado do bom assessor de imprensa: se relacionar com quem de fato tem relevância na opinião pública majoritária.
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