Você fica aí pensando em deletar do Facebook aqueles amigos que divergem, que pensam diferente, difíceis de convencer e quase sempre agressivos. Pois eu te convido a prestar atenção naqueles que não fazem nada disso, mas curtem os comentários dos que batem em você.
É aí que mora o perigo.
Quem bate de frente são pessoas que ainda lhe têm algum respeito e de alguma forma gostariam que você concordasse com elas. Mas as que curtem agressões a você, sem coragem de pôr a cara, nas sombras, têm uma opinião consolidada a seu respeito que dificilmente se revogará. Temem ou desprezam você ou o que diz e não têm o menor interesse de mudar esse quadro.
Em minha vida profissional nunca tive medo de barulhentos e divergentes, porque são transparentes. Mas sempre mantive pé atrás com dissimulados. Sabia que morderiam meu pé na primeira oportunidade.
Também lido mal com agressões, já deletei amigos ocultos debaixo de comentários divergentes e não dá para contar a quantidade de vezes que pensei em largar tudo o que já construí nas redes sociais.
Mas me contive ao avaliar que posso estar superestimando o inimigo e/ou dando-lhe uma importância muito maior do que a dos amigos. O raciocínio é que, para um desses agressores, há uns 50 que gostam do que você publica e para as quais seus escritos têm importância.
Gosto de lembrar da história do criador da série Senfield, Larry David, que foi ovacionado por um coro de 50 mil vozes assim que foi descoberto pelo locutor na plateia de um jogo dos Yankes. Foi para casa abatido porque uma pessoa, uma só, enfiara o rosto pela janela do seu carro na saída e o chamara de imbecil.
Ocorre também que é preciso individualizar a culpa, como se fazem nos processos judiciais. É preciso diferenciar o que diverge de forma grosseira por inabilidade e proteção do anonimato do militante que não está ali para ser convencido. Tem uma carga de maldade ou de treinamento para agredi-lo e ir embora.
É o que o enquadra na mesma categoria mental dele: que o mundo é dividido em coxinhas e mortadelas. Se você não é uma coisa, só pode ser outra. Não pode ser alguém que possa estar tentando o caminho do meio, tentando a verdade com as limitações próprias dessa busca.
Comunicação e marketing
Se eu pudesse, evitaria escrever sobre política, a institucional dos partidos e dos políticos. Mas é o que sei fazer com as mãos nas costas depois de 35 anos trabalhando na área e suas intercessões com comunicação pública e marketing. E porque me afeta todos os dias, desafia a cada hora minha capacidade de indignação e me põe medo a respeito do futuro da família que tenho por criar.
Nem em meus piores pesadelos achei que chegaríamos a esse ponto.
Mostrar que o rei está nu é prática que, no Brasil, ocupava os livres pensadores desde a Proclamação da República e dos traços de João do Rio. Falar mal de presidentes sempre foi um esporte nacional inofensivo, mas só até os dois últimos governos ditos populares, de Lula e Dilma, em que a crítica passou a ser patrulhada como preconceito. Contra um operário ou uma mulher.
(Há uma grande peso da facilidade das redes sociais aí, tema para outro artigo longo.)
Por formação, vício ou virtude, cresci atribuindo valor quase sagrado à obrigação de ouvir o outro lado, o direito ao contraditório e o exercício de se colocar no lugar do outro. Sempre achei que questionar o poder constituído era salutar e obrigação de cidadania. E, em outra mão, denegrir ou desqualificar o adversário uma covardia de gente mesquinha. E eliminá-lo, pior do que tudo isso.
De uns tempos para cá e algum exercício penitente, porém, fui perdendo a culpa — antes terrível para meus princípios — de eliminar quem pensa diferente. Porque, no atual estado de coisas, não se trata bem de quem diverge, mas de quem está na trincheira para te atingir o fígado.
Fui desenvolvendo táticas para delimitá-los e não ser injusto com os que, de fato, apenas pensam diferente e têm habilidade para divergir com elegância.
Fanpage no Facebook
Se minha experiência vale, recomendo:
1. O limite é o argumento. Enquanto seu oponente estiver combatendo seus dados com dados e argumentação, respeite-o. É um adversário de classe.
2. Se agride com palavrões ou rótulos – coxinha, mortadela ou reacionário —, tente uma aproximação com uma resposta em cima de argumentos. Muitos dos que divergem nesse tom não sabem fazer de outra forma, descobriram uma motivação em comentar posts nas redes sociais, estão aprendendo a discutir, acreditam em lendas urbanas, gostam dos aplausos que provocam e agem sob a proteção do anonimato. Quando se percebem notados, tendem a modular o tom e até virar aliado.
3. Se a abordagem não reduz os ataques por duas vezes e se configura um militante que não quer ser convencido, corte sem dó. Não tenha pudor de desfazer a amizade, se for na timeline, ou bani-lo se for na sua fanpage. Ali, o Facebook te dá a opção de ocultar o comentário e, em seguida, banir o intruso.
Antes, porém, sempre que for vítima de ataques duros de seus oponentes, observe quem curte, os que agem na sombra, que curtem os comentários de quem o agride e não têm coragem de pôr a cara à luz do sol. Talvez, não seja bem o comentarista visível que você precisa deletar.
A tendência, lamentável, é que, com o tempo, você ficará restrito a pessoas que concordam com você e a divergentes elegantes que, com o tempo, também se afastarão. Tente sentir-se bem no gueto, feliz com seus amigos de verdade e sua família. É para onde o mundo vai.
Edgard Utsch diz
Quer ser meu amigo no Facebook, Ramiro?
Eu sou do tempo da preferência em olhar nos olhos.
Com essas redes que não estão sociais, ficamos menos humanos e mais artificiais.
Eu diria também um tanto primitivos.
Apesar disso, se quiser…
Se quiser vai aí o meu endereço facebook.com/edgard.danielutsch
A propósito, gosto de privacidade em determinado momento…
E respeito as opiniões…
Da mesma forma como desejo ser respeitado.