Acho que foi o contador de causos Sebastião Nery que contou a história de um prefeito da Bahia que cogitou erigir uma estátua em homenagem a um deputado federal.
Um assessor sensato o advertiu de que, como deputados passam e a cidade viria a depender de outros no futuro, uma ou algumas estátuas não seriam suficientes com o passar do tempo.
Ele considerou a sugestão e acabou propondo uma solução intercambiável que pudesse atender aos futuros deputados homenageados numa mesma estátua:
— Que tal um pescoço de rosca?
Que tal uma tatuagem intercambiável, um adesivo de fácil substituição?, pergunto eu diante da que tatuou no ombro o deputado paraense Wladimir Costa, em homenagem a Michel Temer.
Como outros presidentes virão, quiçá governadores, senadores ou presidentes da Câmara e do Senado, passíveis de serem homenageados da mesma forma, evitar-se-ia o risco de tatuar o corpo todo à medida que novas exigências de homenagem surgissem.
Como se sabe, é do caráter da nossa classe política aderir a quem está no poder, o presidente da hora, rápido e sem conflito existencial, independente de ideologia e afinidades programáticas. É famosa a piada entre os políticos de que “deputado tal virou amigo do governador desde criancinha”.
O deputado que virou amigo de Temer desde criança comparou o seu caso ao de outros que tatuam as caras de Che Guevara, Fidel Castro e até Lula (existe?). Sem considerar que pelos menos os desavisados que tatuam Che morrem com a marca no corpo, já que não existe rotatividade de guerrilheiros que se propõem a libertar um país como há a dos políticos que, nas democracias, tentam.
É meio coisa de militante de rede social sem o que fazer pegar um caso isolado como esse, pelo que tem de inusitado e ótima foto disponível, para fazer generalizações sobre uma classe e uma época.
Detesto me alinhar os guerrilheiros de sofá, mas também não posso perder a oportunidade no momento em que o presidente despeja provas de que é possível tornar a maior parte da classe política amigos desde a infância, independente do tamanho da denúncia que ela terá que votar amanhã na Câmara dos Deputados.
A impressão é a de que a maior parte dos deputados não teria dificuldade de colar uma tatuagem se fosse preciso para barrar as denúncias, sem pensar no risco de ter que trocá-la amanhã pela de Rodrigo Maia, se não forem atingidos os votos necessários.
É só mais um tipo de oferenda de troca do nosso presidencialismo de cooptação em que o presidente gasta mais tempo fazendo amigos desde criancinhas no congresso que governando. E cada crise custa cada vez mais caro para apascentar os amigos insaciáveis de mais de 30 partidos.
De repente, quem sabe, a tatuagem pode virar até outra moeda de troca: no ombro, no peito ou na bunda?
Comunicação e Poder
Temer faturando com a boa repercussão do Exército no Rio. Problema de banalizar medidas extraordinárias é deixarem de ser extraordinárias. E lembrar que, como estamos no Rio, daqui a pouco podem passar a mão no traseiro de soldado.
Não fosse o Estado falido em todos os sentidos e vocacionado para gestos midiáticos, desconfio que bastariam medidas simples, como revistar suspeitos nos principais pontos e vias de acesso, recolher armas e efetuar prisões.
Em Manhattan, é difícil achar alguém, de qualquer classe social, que não tenha sido revistado/apalpado pela polícia. Aqui, não pode.
Mídia e Poder
História boa a do boeing, que pertenceu originalmente à alemã Lufhansa e mais umas cinco companhias aéreas antes de cair nas mãos da brasileira TAF e virar sucata no Ceará, de onde sairá para um museu na Alemanha.
Ele faz parte da memória sentimental dos alemães, desde que foi sequestrado em outubro de 1977 por terroristas da RAF (Facção do Exército Vermelho), com 91 passageiros a bordo.
Foi saltando por diferentes aeroportos para reabastecer até parar no de Mogadício, na Somália, onde foi invadido pela polícia de elite alemã. Morreram o piloto e três dos quatro sequestradores.
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