Cinco perguntas sobre a crise atual, a situação presente e futura do país, respondidas com base na excelente palestra de Maílson da Nóbrega, ministro da Fazenda de Sarney, sócio da consultoria Tendências e colunista da Veja, durante a convenção do comércio varejista na Costa do Sauípe, na semana passada:
O Brasil vai mesmo mal?
– Sim, o nível de emprego vem caindo há um ano e meio na indústria, chegou no agronegócio e vai chegar ao comércio, a inflação sobe e há uma séria crise de confiança no governo que impede investimentos internos e inviabiliza os externos.
É mesmo um problema da crise internacional?
– Em termos. A derrubada do preço dos produtos exportados para a China (principalmente o minério) e a recessão americana ajudaram, mas o principal problema foi não termos acelerado as reformas de infra-estrutura que teriam que vir após a estabilidade – estradas, aeroportos, portos, desregulamentação, desburocratização – e ter focado o desenvolvimento apenas em crédito subsidiado. Que se esgotou.
Quais as perspectivas de curto prazo?
– A médio prazo, num governo Dilma Rousseff, mais do mesmo. O governo tem preconceito ideológico contra concessões da iniciativa privada que mina os investimentos. Num governo Marina Silva, dois cenários: se ela tiver apoio no Congresso, retomada dos princípios de macroeconomia e responsabilidade fiscal, com reformar e crescimento; se não, o contrário disso.
E as futuras?
– O país não acaba, apesar dos políticos. É maior que eles, cercado de salvaguardas contra populismos e amadurecido contra medidas salvacionistas. Tem democracia e instituições sólidas: judiciário independente, imprensa livre, agressiva e competitiva, sociedade intolerante à inflação, mercado aberto na bolsa de valores que oscila e pune as más decisões de governo, prestação de contas permanente das autoridades (ao Congresso, à imprensa e aos eleitores através de eleições regulares).
O país não está entre os piores do continente – Argentina, Bolívia, Venezuela –, mas entre os melhores – Colômbia, Chile, México – e na antessala dos 25 maiores do mundo.
Quais os riscos ou ameaças?
– Dois:
1. tentações golpistas contra as instituições, como as que tentaram o partido de sustentação do atual governo contra o Judiciário, a imprensa, a livre iniciativa,
2. a perda de oportunidade de embarcar no trem da economia mundial, que recomeça a andar.
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