Num dia qualquer deste ano, a novelista Lícia Manzo estava assistindo ao musical O Rei Leão, em Nova Iorque, quando lhe veio à mente, de uma vez só, a história completa da próxima novela das seis, com título provisório de Sete Vidas.
Nessa matéria despretensiosa da Revista de TV de O Globo sobre o processo de escrever a novela, é possível viajar no fascinante processo de criação que brota de uma vez só depois de vir juntando um monte de pedaços dispersos de conversas, lembranças e experiências.
1. Ela tinha acabado de escrever sua primeira novela, A Vida da Gente, depois algumas contribuições para seriados e programas humorísticos, quando seu diretor Jayme Monjardim, empolgado com a parceria, lhe disse que desejava contar uma história de um navegador que se passava na Antártica.
2. Ela andava impressionada com a história de filhos de inseminação artificial que, agora adultos, formam grupos pela internet para descobrir seus irmãos. Foi lendo e vendo o que podia sobre o assunto e chegou a visitar uma clínica de inseminação artificial em Londres.
3. Ficou arrepiada com o poder uma fábula para provocar a vibração do público que presenciou em O Rei Leão. E se tocou de uma vez por todas com a jornada de amadurecimento do leãozinho que precisa sobreviver sozinho.
Foi para a praia no dia seguinte e, sem um bloquinho, consumiu um bloco de post-it para anotar o jorro de ideias que que dava nexo a tudo o que vinha acumulando.
– E me veio a história inteira: pápápá! Fui anotando com medo de o papel acabar!
E a história inteira, ótima, é de um navegador solitário da Antártica que, por natureza, é alguém que se exila pela dificuldade de estabelecer vínculos. Doador de sêmen no passado, vai ser confrontado por um grupo de sete meio-irmãos que se descobriram na internet e procuram pelo pai artificial.
Lícia dá como meio maluco por inexplicável o insight no meio da peça em Nova Iorque: “É muito doido”.
Mas quem é do ramo sabe que todas as ideias dispersas só fazem sentido quando têm uma motivação poderosa que junta todas as outras e empurra grandes personagens para a frente. O medo e a necessidade de ir em frente quanto não se tem mais volta.
A novela já tinha 48 capítulos dos 100 previstos quando da publicação da matéria,em outubro, e a novela deve estrear em março de 2015.
No meio, certamente, essa bela história vai tropeçar nos problemas rotineiros que arrasam – no sentido de tornar rasas – as novelas brasileiras: apenas ela e cinco colaboradores para uma produção industrial e desumana de quase um filme por dia, que acaba resultando em diálogos apressados e soluções fáceis, como os namoricos bobos, fofocas e traições adolescentes.
É sempre um prazer e uma pena. Saber que há por aí escritoras desse porte com tanta pretensão e grandeza. E ao mesmo tempo sufocadas pela pressão de um modelo apressado.
Deixe um comentário