O marqueteiro de Bill Clinton, James Carville, ficou famoso pela frase com que resumiu o dilema da sucessão de George Bush, que patinava nas pesquisas apesar do triunfo militar na Guerra do Golfo, em 1992:
– É a economia, estúpido!
No Brasil de 2014, é a economia, claro, mas mais especificamente a classe C. A classe C, estúpido!
Ela corresponde a 54% do eleitorado (cerca de 114 milhões) e 56% do número de eleitores. Saltou de 31% para 37% a partir Plano Real do governo Fernando Henrique Cardoso, em 1994, mas foi nos oito anos do governo Lula que deu uma esticada para os 54% e experimentou a sensação de fartura. Comprou iogurtes, TVS de LCD, geladeiras de inox e carros populares em 60 prestações.
O problema é que está endividada em mais de 50% no contracheque, achando tudo mais caro e mais difícil, e se sentindo órfã.
Um excelente estudo encomendado pela revista Época ao Instituto Paraná Pesquisas revela que essa faixa nunca fora tão feliz, mas sente falta do padrinho. Sua vida piorou durante o mandato de Dilma Roussef, a pessoa em que ele mandou votar como sua substituta.
Queixa-se das dívidas, da inflação e principalmente do atendimento à saúde e à educação. É nela que estão os mais baixos índices de avaliação do governo (70% entre regular, ruim ou péssimo), a maior taxa de rejeição a Dilma (só 10% preferem-na numa comparação com ele) e o mais alto índice de indefinição do voto.
Feito antes da candidatura de Marina Silva, com Eduardo Campos na disputa, nada menos que 76% – três em cada quatro – diziam não ter candidato em outubro. O dado preocupante para a candidatura do governo é que, refeito o estudo com o nome de Marina, a indefinição caiu para 42,5%.
A candidata do PSB entrou como um furacão nessa faixa, pelo que a revista entende como identificação: analfabeta até a juventude e de origem pobre, como Lula. A isso, os analistas ouvidos na reportagem acrescentam que a maior parte deixou de ser operária, começou a virar empreendedora de pequenos negócios e foi perdendo o PT de vista.
Quer mais? Estudo do PSB também citado pela revista indica que apenas 15% dessa nova classe média votam no PT. Nos outros 85% estão a maioria dos jovens que, em junho passado, foram para as ruas reclamar que a vida piorou.
Marina sabe de tudo isso e não é à toa que fala em passe livre, educação integral e outros temas caros à faixa. A campanha de Dilma já ajustou o discurso, enfatizando entre outras coisas os programas de financiamento ao estudante (Prouni e Fies) e recheando sua propaganda com postos de saúde de cinema.
Só Aécio Neves continua falando em redução do tamanho do governo, pacto federativo e recessão. Não deve ser à toa que caiu nas pesquisas.
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