Ele já descarta o presidente no segundo turno, se dissocia do bolo dos candidatos de centro e se diferencia de Lula, com quem compete o voto das esquerdas.
Em suas últimas entrevistas, Ciro Gomes está sinalizado com uma estratégia inteligente de polarizar com Lula e não com o Bolsonaro.
Ele já dá por certo que Bolsonaro não é mais problema eleitoral, que não tem qualquer possibilidade de chegar ao segundo turno. A não ser que ocorra uma reviravolta improvável de otimismo nacional com a economia e o pleno emprego.
Com isso, ele descola da turma de candidatos que se engalfinham para ser uma alternativa a Bolsonaro e se descola também de Lula.
Ele havia perdido espaço com a chegada de petista, porque competiria na mesma faixa de centro esquerda.
Ele sempre procurou se dizer de centro esquerda para tentar o centro e se diferenciar do esquerdismo mais extremo do petismo, mas Lula voltou para ocupar esse espaço, com muito mais chances do que ele.
Então, teve a sacada de perceber que seu adversário é Lula e não Bolsonaro.
Por quê?
Ele vai procurar mostrar que tem mais condições de se conversar com o centro democrático, com a esquerda light tipo PSB, PV e Rede e até à direita, com DEM e PSD.
Seu partido mandou bem em aliança com o DEM de ACM na Bahia e com o PSD de Alexandre Kalil em Belo Horizonte.
E ainda vai bater também na tecla de que que é uma esquerda sem corrupção, sem o carrossel de denúncias que envolvem Lula. Quer atrair os votos da esquerda envergonhada com essas denúncias, do centro sem um candidato forte e da direita que não acredita mais em neoliberalismo.
Tem candidatos a esse lugar, de polarização com Lula, como João Doria. Mas aí surge um problema de cenário que favorece Ciro.
Ciro chega num momento mais que propício, em que o liberalismo que ele sempre combateu e que é a cara da direita liberal como Doria, dá sinais irreversíveis de morte por inanição.
Analistas de direita sérios como o presidente da americana Eurasia Group dão como certo que acabou o consenso de Washington, com as ilusões de privatizações, abertura comercial e estado mínimo.
Como Ciro sempre acreditou, o papel do Estado vem crescendo e vai crescer mais depois da pandemia. O Estado brasileiro caminha para ser mais intervencionista do que já é, agora com uma boa desculpa.
É outro motivo porque Bolsonaro e Guedes, com sua liberdade econômica, estão na contramão da história.
Mais uma vez, o país vai ter que adiar sua entrada no capitalismo. Com Lula ou Ciro, possivelmente.
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