O primeiro panelaço que abafou o pronunciamento em rede nacional da presidente Dilma Rousseff, no Dia da Mulher, e os protestos que se seguiram nas ruas traduziram pela primeira vez e de forma inequívoca o descontentamento da maioria com o fracasso dos governos lulopetistas. E inspirou cinco grandes artigos sobre a dubiedade e as contradições do PT.
Dos quais destaco alguns trechos:
Do doutor em Filosofia da UFRGS e pesquisador da Universidade Columbia, Fernando Schüler, na Época:
- “Desde criancinhas, aprendemos que a “direita” é sempre autoritária e corrupta, e a “esquerda” sempre democrática e bem-intencionada. (…) O mito resiste aos fatos. A corrupção da esquerda é sempre “política”, e não “pessoal”. Por isso o sujeito pode ir para o xadrez, em um camburão da Polícia Federal, não sem antes erguer o braço, punho cerrado. E a imagem depois vira peça de campanha do partido.”
- “A ideologia cumpre, na história do PT, uma função ambivalente. O militante típico acredita que políticas de “austeridade” são coisas do capeta, amaldiçoa os bancos e o “neoliberalismo”. Ao mesmo tempo, Joaquim Levy está lá, no comando do Ministério da Fazenda. Foi assim, em 2002, com a “Carta ao Povo Brasileiro” e a posterior nomeação de Henrique Meirelles para o Banco Central. Não há nada errado com isso. (…) O problema é a ambivalência moral. O engano sistemático, em que uma “ética da convicção” (para usar a expressão weberiana), fundada em um tipo de discurso, serve à militância, enquanto uma ética da responsabilidade, fundada na negação desse mesmo discurso, serve ao governo.”
- “De um lado, a aposta na impessoalidade do Estado, na autonomia das agências reguladoras, nos sistemas de parceria público-privada. A ênfase na eficiência e na contratualização da prestação de serviços públicos. Do outro, o dirigismo estatal, a política dos “campeões nacionais” e a defesa do modelo burocrático de gestão pública, da estabilidade rígida de emprego, das autarquias e repartições públicas prestadoras de serviços, da recusa da meritocracia no setor público.”
- “É interessante como um partido nascido “na sociedade” tenha se tornado, gradativamente, porta-voz de uma espécie de “ideologia do Estado”.
De Fernando Gabeira, no Estadão.
- “Olho em torno e vejo muitos intelectuais que apoiam o governo. Chegam a admitir a roubalheira porque preferem um governo de esquerda. A direita, argumentam, é roubalheira com retrocesso social. Não vou discutir a tese, apenas registrar sua grande dose de conformismo e resignação.”
- “Essa resignação vai tornando o país estranho e inquietante, muito diferente dos sonhos de redemocratização.”
- “Não compartilho a euforia de Darcy Ribeiro com uma exuberante civilização tropical. Entre ela e e o atual colapso dos valores que o PT nos propõe, certamente existe um caminho a percorrer.”
Do historiador Demetrio Magnoli, em O Globo:
- “As manifestações desta sexta (13) obedeceram à lógica do mundo da política organizada. Convocadas pela CUT, pelo MST e pela UNE, elas divulgaram uma mensagem nítida, definida de antemão pelo centro político do lulopetismo.”
- “As manifestações antigovernistas deste domingo pertencem ao universo da política virtual, regido pela lei da incerteza. Convocadas nas redes sociais por uma miríade de pequenos grupos antipartidários, elas carecem de comando unificado e estabilidade de mensagem. (…) Serão fracos se não forem muitos.”
- Desde que perdeu o monopólio das ruas, em 2013, “o PT tentou restaurá-lo por meio do expediente de associá-las à “elite” e ao “preconceito”.
Do jornalista Lino Bocchini, na Carta Capital:
- “O gigante acordou mas o PT segue dormindo. A reação do partido ao panelaço indica um partido descolado da realidade. Mostra quanto os responsáveis por sua comunicação não conseguem decifrar os tempos atuais e suas novas formas de mobilização, de difusão de ideias e de construção de narrativas – verdadeiras ou não.”
- “O panelaço mobilizou todo o País? Presencialmente não mas, virtualmente, sim. O ocorrido segue como o assunto mais comentado em todas as redes sociais até o fechamento deste texto, quase 24 horas após seu ocorrido. (…) Mas o movimento do PT e do governo federal de viver em uma negação da realidade à sua volta não ajuda em nada. Só agrava a percepção de que o partido se tornou anacrônico.”
Da jornalista e escritora Cora Rónai, em O Globo:
- “O PT melhoraria muito o clima nas redes sociais e facilitaria muito a vida de todos nós se, antes do próximo pronunciamento da presidente, divulgasse uma lista estabelecendo os bairros autorizados a protestar, o limite dos contracheques para protestos válidos e, naturalmente, a marca das panelas.”
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