Jair Bolsonaro começou a campanha de segundo turno com cinco erros no colo, por ação ou inação:
- Disse que não queria apoio de partidos e acuou os caciques que temiam ser esnobados numa eventual declaração a favor. Pode ser que o mundo tenha mudado com as redes sociais, mas o cômputo de apoios em segundo turno é sempre bom marketing. E não se pode descartar a opinião deles sobre governadores e prefeitos.
- Desidratou a musculatura liberal de seu governo, ao retirar do pacote de limpeza geral do Estado a privatização de grandes estatais, como Eletrobrás e Petrobras. Age com seu faro político visando a banda classe média que tem fetiche com a estatal do petróleo, mas acabou sinalizando que diverge de seu ministro da Fazenda, Paulo Posto Ipiranga Guedes. O setor produtivo na Bolsa e o mundo reagiram mal.
- Reagiu mal à provocação da campanha adversária sobre a morte de uma celebridade da capoeira na Bahia, por eleitor seu. É caso isolado, mas pode ser posto na conta de sua retórica belicosa. Deveria ter se solidarizado com a vítima e advertido sua militância. Preferiu ser do seu jeito, com certa lógica não eleitoral: “e eu com isso?” Só ontem, corrigiu no Twitter, dispensando os votos de quem agride.
- Anunciou que não vai aos primeiros debates. Nem do seu lado se acredita nos atestados médicos que o impedem, depois de ter dado entrevistas, algumas longas, em ambientes amigos de emissoras e canais idem. Vai tirar a impressão quando comparecer nos últimos, mas poderia ter evitado o desgaste anunciando que pediria um adiamento às emissoras para assim que estivesse restabelecido.
- Não reagiu de forma alguma à denúncia de que Paulo Guedes faturou alto com negociações suspeitas com fundos de pensão nos governos petistas. Foi uma engenharia esperta em que ele fez cruzamento de compras entre empresas próprias para gerar ágios milionários sabe-se lá com qual destinação. Tudo indica que foi bom negócio também para os fundos, mas a primeira reação, como sempre, foi de acusar a plateia e não dar satisfações. Uma nota ou uma boa entrevista de Guedes, poderia não esclarecer mas serviria para confundir ou demonstrar um mínimo de vontade de explicar. Para um candidato que se coloca como intransigente com a corrupção, sinalizou pouco.
Por azar, seu adversário Fernando Haddad, que não pode errar, ainda não errou estrategicamente.
Tirou de sua plataforma Lula e o vermelho que afugentam 75% do eleitorado, amarelou e esverdeou seu material de campanha, baixou o tom da militância própria conhecida pela agressividade, conseguiu transferir a Bolsonaro o monopólio da agressividade ao propor um pacto ainda que hipócrita de cordialidade, anunciou alianças com partidos mesmo que óbvias, negou a parte ruim e golpista do seu programa, deixou entrever que sinalizará ao centro e ao mercado.
Enfim, se mostrou mais Haddad que petista. Como tem estampa, articulação e certa elegância, sinaliza que não poderia haver melhor contraponto à má fama de seu partido.
Seu conteúdo programático em economia continua o avesso da demanda nacional que o de Bolsonaro encarna melhor. Ainda aposta na matriz esgotada de aumento do consumo e da redução de juros a canetada, inviáveis e superadas.
Mas, para uma primeira semana, vai saindo melhor. A ver o quanto a sociedade está disposta a engolir o que propõe e o que o cerca.
Transferência de votos meio a meio
Os 58% de Bolsonaro e os 42% de Haddad na primeira pesquisa do DataFolha para o segundo turno, significa grosso modo que os dois herdaram mais ou menos metade dos 25% que não votaram neles no primeiro turno, que lhes deu 46% e 29%.
Bolsonaro tem melhor desempenho, pela ordem, nas regiões sul, sudeste, centro-oeste e norte, homens (67%), mais ricos e mais escolarizados.
Haddad no nordeste, entre os mais pobres, menos escolarizados e mulheres (39%). Vive o mesmo processo dos partidos que, clientelistas, foram se restringindo aos rincões mais pobres, como foram Arena, PDS, PMDB, PFL.
Fator eleição de Bolsonaro
Se você tivesse comprado R$ 7,5 mil em ações da Cemig na terça-feira 2, em que Romeu Zema prometeu dividi-la e vendê-la durante o debate na Globo, na segunda (8) você teria R$ 10,470 mil no bolso. Poderia ter vendido na sexta 5, antevéspera da eleição, por R$ 10,880. Um ganho de mais de 40% em três dias.
Boa parte da força desse azarão do primeiro turno da eleicão em Minas, e de Bolsonaro, vem desse liberalismo.
Desde que o capitão disparou nas pesquisas, a bolsa disparou mais de 8 mil pontos. As principais estatais nacionais e os dois maiores bancos — Petrobras, Eletrobrás, Banco do Brasil, Itaú e Bradesco — valorizaram R$ 80 bilhões. As dez maiores estatais, R$ 130 bi.
Só nesta quarta, com os erros declaratórios de Bolsonaro, perderam valor.
Doria e o excesso de marketing
Convido a relerem meu artigo Três erros de Doria e o perigo do excesso de marketing, sobre os tiros no pé do candidato ao governo de São Paulo, por sua sanha autopromocional.
Dois dias depois de ter sido chamado de “traidor” por seu padrinho político, que lhe negou chancela do PSDB para apoiar Bolsonaro. Um depois de ver o MDB de Paulo Skaf/Temer e o cacique bolsonarista Major Olímpio declararem apoio a seu adversário no segundo turno, Márcio França.
De uma forma geral, a impressão que passa é que não é nem um pouco confiável.
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