Ciro Gomes não tem vergonha de defender seu nacionalismo anos 50, sua política estatizante na contramão das reformas e do mundo.
Jair Bolsonaro não tem vergonha de defender seu conservadorismo pré 1968, sua política de costumes na contramão dos avanços da civilização.
Os dois despontam na praça como nomes potenciais para disputar o segundo turno das próximas eleições. Porque souberam perceber certas demandas da sociedade e porque falta uma oposição competente para dizer que estão errados.
A sabatina do Correio Braziliense com os presidenciáveis, na quinta-feira, me mostrou que a centro-direita dita reformista não está sem candidato à toa.
Falta-lhe coragem e clareza para contrapor que estatais sugam dinheiro público sem entregar eficiência, que o país quebra se não houver reformas estruturais profundas, que aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo não são o fim do mundo.
Há um certa escorregada retórica na fala dos candidatos mais viáveis dessa centro-direita — Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e Rodrigo Maia — em torno de temas que os dois defendem sem medo do ridículo.
No caso da Petrobras, por exemplo, fetiche nacional e cavalo de batalha de todas as últimas eleições desde o fim da ditadura, os quatro se contorceram para dizer que ela precisa competir com o mercado privado sem ser vendida, sem deixar de ser estatal.
— A greve dos caminhoneiros mostrou que o monopólio não deu certo — foi o melhor que disse Rodrigo Maia.
Os quatro parecem também contaminados por, pela ordem:
- certo saudosismo intervencionista que aflorou do noticiário na greve dos caminhoneiros,
- a pesquisa do DataFolha em que 75% dos brasileiros se disseram contra a venda da Petrobras,
- o crescimento de Ciro Gomes nas pesquisas com todo um discurso de Estado papai contra o diabo do mercado e da eficiência privada.
As três coisas podem ter sugerido a ideia de que Ciro está certo, que a maioria do povo brasileiro quer de fato um estado salvador e que vai perder voto quem for para as ruas prometendo racionalidade, eficiência, competitividade, livre iniciativa e reformas estruturais.
Na volta mais funda do parafuso, a esquerda que parecia morta com o fiasco econômico de seus últimos governos está nas ruas navegando nessa onda, com sua tremenda competência para culpar a direita pelo que ela, esquerda, fez ou deixou de fazer.
É surpreendente que, como lembrou Ricardo Kertzman na sua Opinião Sem Medo, depois de seus governos terem quebrado Minas Gerais e o país, ela ainda esteja propalando que têm a única solução para nossos problemas, num embuste que vai saltando das redes sociais para o inconsciente coletivo.
De repente, mais que o ressurgimento de uma nova onda conservadora, como se disse, há uma recidiva do esquerdismo mais anacrônico, mais anos 50, pela mesma falta de medo de Ciro, pelo mesmo excesso de medo da centro direita de dizer a que veio.
Não é a primeira vez, com se sabe:
Nas campanhas eleitorais de 2002 e 2006, José Serra e Geraldo Alckmin não tiveram coragem de defender o legado de racionalidade de Fernando Henrique Cardoso diante da campanha massacrante que o colocara como símbolo da perversidade neoliberal e de uma herança de desigualdade que vinha desde Cabral.
Nas de 2010 e 2014, Geraldo Alckmin e Aécio Neves caíram na embromação de que os neoliberais venderiam a Petrobras ou a transformariam em Petrobrax, no mínimo. Aécio andava tão amedrontado que andou fazendo a piada ruim de que, eleito, re-estatizaria a empresa que os governos petistas vinham destruindo.
Nessa, a esquerda está de novo com todo o seu marketing de palanque, seus vídeos lacrimejantes (veja o da campanha de Lula aqui) e sua capacidade infinita de manipulação. Sem medo de defender em praça pública uma candidatura ilegal. Sem pudor de convencer que a direita é a de fato responsável por tudo o que ela, esquerda, produziu em maior escala. Do fracasso econômico à corrupção.
Já passou da hora de os quatro deixarem de ser bestas.
ForaGolpistas diz
Arrumaram uma versao limpinha do Kertzman, mas o chorume liberalesco de 5a continua o mesmo!