Quis o destino que, no mesmo mês em que tomou o posse o ministro da Educação de Bolsonaro que quer cortar investimento em cursos de Filosofia e Humanas, uma escola de Barcelona decidiu retirar da biblioteca 200 livros infantis considerados tóxicos.
Entre eles, Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida, ou La Caperucita Roja e La Bella Durmiente, por repetirem padrões sexuais machistas.
Segundo uma das mães da comissão que revisa o catálogo da escola, são obras que reproduzem o estereótipo que associa homens à valentia e as mulheres à docilidade.
A sociedade estaria “cambiando”, segundo Ana Tutsó ao jornal El País, “pero esto no se está reflejando en los cuentos”.
Reflexo de muito discurso por aí sobre igualdade e questão de gênero, é uma idiotia proporcional à redução da importância da Filosofia e das outras Ciências Humanas na formação profissional, que o presidente Bolsonaro endossou alegremente.
A fantasia quase erótica da censura tem na opinião de educadores com mais de dois neurônios a ilusão do controle de que tirar livros ou programas de TV do acesso a crianças vai lhes garantir segurança.
Traduz ignorância absoluta sobre a força da Literatura para educar, exatamente quanto toca em questões inconvenientes. É na Literatura onde mulheres, negros e gays apanham é que se reflete que mulheres, gays e negros não podem apanhar.
E sugere incompetência pedagógica, na tentação mais fácil de tomar o livro ou tirar o sofá da sala, ao invés de usar os conflitos para discutir, ensinar a discernir e crescer.
A tentação do ministro Abraham Weintraub tem toda essa tentação de controle do que é melhor para o profissional, de estupidez sobre sua incapacidade de fazer e aprender com suas escolhas, de cortar quando mais fácil sentar e adaptar.
Num esforço de ajudar o governo brasileiro a defender sua tese, pode-se dar-lhe o crédito de que ele não é contra que um engenheiro se aprimore também com filosofia. Mas que o poder público gaste dinheiro com isso.
Se você quer formação mais que técnica que o governo acha estratégico oferecer, que pague por fora, por sua conta.
Mas aí seria o caso de se explicar melhor. E não, como a comissão de Barcelona ou as novas feministas, achar que a plateia e as crianças não conseguem discernir uma coisa da outra.
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