Belo Horizonte é uma cidade degradada, de péssima qualidade de vida, como as maiores capitais do país.
Andar de ônibus é um inferno, de carro, temerário, a pé, um suplício.
Todo trabalhador tem sua história de quatro horas diárias perdidas para chegar ao serviço ou voltar para casa, viajando de pé. Tem que acordar muito mais cedo e dormir muito mais tarde.
Quem conseguiu comprar carro não pode abrir as janelas em qualquer sinal, parar em cruzamento à noite, relaxar diante do portão da garagem, estacionar nas vagas arrestadas pelos guardadores de carro ou loteadas pelo poder público e pelas placas de descarga, pagar até R$ 18 reais a hora de estacionamento.
Quem em juízo perfeito deixará a mulher ou a filha caminhar sozinha pelas ruas, de bolsa e celular? Quem, homem ou mulher, atravessará o Viaduto da Floresta de noite, andará pelas favelas cheias de puxadinhos de trabalhadores de rua, drogados ou aproveitadores em que se transformaram as marquises do centro ou da zona sul, passará no meio dos pivetões que fazem ponto na porta das padarias e supermercados, deixará o filho sair da escola falando no celular?
Nosso principal problema é a sensação objetiva — e não subjetiva como dizem os especialistas — de insegurança. E contra ela, você pode estar certo, os candidatos a prefeito de Belo Horizonte ou de qualquer grande capital quase nada podem fazer.
Discurso e campanhas
Vemos Alexandre Kalil e João Leite se esforçando num discurso um tanto inconvicto de que vão armar a guarda municipal e aumentar a presença nas ruas que a Polícia Militar não pode dar, mas há um nó maior que eles não podem desatar, em que se misturam desestruturação familiar, confusão ideológica e leniência judicial.
As cidades andam cheias de trabalhadores rotos e zumbis que não querem voltar para casa. Entre outras razões:
- Porque é caro (R$ 16 por dia para quatro ônibus ou R$ 400 para 25 dias).
- Porque a rua paga melhor que emprego fixo, sem obrigação de horário e cara feia de chefe, a quem faz serviços de vigia, lava carros ou guarda vagas.
- Porque é lucrativo para pivetões roubar sem ser apanhado. Já andam com lanternas para vasculhar bens em cada carro estacionado, como se fossem um guarda municipal em serviço.
- Porque é sofrido encarar as brigas domésticas e as responsabilidades com esposa/marido, filhos, sustento, educação e saúde, cada vez maiores num país em crise.
- Porque é melhor conviver com a irmandade criada entre amigos novos no sofrimento em comum da rua do que ir encarar autoridade e disciplina em abrigos.
- Porque religiosos e arautos da boa vontade em todo canto culpam problemas sociais e disparidades de renda para defender o direito de ocuparem patrimônio público, marquises, praças, lotes vagos. Como se o volume de gente na rua não tivesse aumentado exatamente nos anos Lula, de crescimento e incorporação do maior contingente de pobres ao mercado de trabalho e consumo.
- Porque o Judiciário solta de tarde quem a polícia entrega de manhã, não tem presídio para todo mundo e postula o direito de ir e vir ignorando que o ir e vir significa se hospedar em local público com cobertores, caixas, garrafas, panelas e até uma TV, como é o caso do grupo que ocupa há bom tempo, sob o olhar complacente de policiais, o coreto em frente à Faculdade de Direito, na praça Afonso Arinos.
Contra esse quadro, os prefeitos nada podem.
Não acredito que seja um problema de boa vontade, mas é que lhes falta aparato psicológico para resolver a degradação das famílias que empurra seus membros para a rua, força de convencimento para encaminhar pessoas para abrigos, coragem política para encarar o discurso social e competência jurisdicional mesmo para mudar estruturas e culturas.
Prefeitos não podem desocupar ruas à força, prender e manter quem que seja preso. Por uma deficiência estrutural de nosso sistema, os prefeitos administram cidades sem poder administrar alguns de seus instrumentos essenciais, como leis de trânsito e polícia.
Da mesma forma, não têm e nem terão recursos e espaço para resolver os grandes nós do engarrafamento e muito menos mudar em algumas décadas o modelo do carro por cabeça, que vai encher as cidades até o colapso.
Daí que as campanhas eleitorais dos dois candidatos se concentram no de sempre, as tais das UMEIs, hospitais e creches (postos de saúde são mantidos com verbas federais), que dão imagens bonitas e depoimentos emocionados, na expectativa um tanto romântica de que, tendo onde deixar seus filhos, pais e mães poderão um dia sair e trabalhar em paz.
Sem serviço de ônibus eficiente, sem carro e sem poder andar a pé pela cidade.
Não, os candidatos a prefeito nada podem nesse quesito fazer por você.
Guilherme diz
Sim este é um quesito a considerar mas , como a vida continua , e considerando os outros quesitos , o candidato João Leite é disparado o mais preparado para governar.
Esta eleição poderá ser mais um marco contra o populismo , discurso vazio e palavras ao vento : fora Kalil !
Tutameia diz
coisas que nunca deram certo e eles continuam fazendo e nunca vou entender porque fazem:
1- beber e dirigir
2- casar
3- votar
4- rezar
5- acreditar no governo
6- fumar
7- cheque especial
e muitos etc..etc…etc
Antivaldir diz
Realmente. O Sr. Valdir é um miliciano petista.
Melão diz
Esta milícia petista tem cada uma. Olha o papinho do sr. Valdirr.É ou não é um miliciano petista ?
valdir diz
Sabendo-o inteligente, obviamente que devo concluir pela deliberada intenção de enganar, já suas preocupações podem corresponder, de fato, a uma fração da sociedade, mas não de sua integralidade; daí afirmar que se trata de discurso político. Minha preocupação é bem outra: contribuir para que Minas não tenha dono e que não seja curral eleitoral. É o que se pode fazer, no momento.