Vem-se formando um consenso apressado de que as últimas derrotas impostas a Sérgio Moro no Congresso estão relacionadas a tentativas da oligarquia de sempre de boicotar a Lava Jato, as ações de controle e combate à corrupção.
Minha tese é outra. Brasília se movimenta para quebrar a segunda perna do governo, a de Sérgio Moro, depois que a primeira, a de Bolsonaro, já foi avariada por mérito próprio.
Como se sabe, o governo Bolsonaro se assentou em três pernas distintas, fortalecidas por demandas reais de uma sociedade esgotada pelo relativismo moral, pela corrupção política misturada à violência das ruas e pela crise econômica persistente.
A do próprio presidente sustentaria a cruzada ultra conservadora nos costumes, a de Sérgio Moro o combate ao crime e a de Paulo Posto Ipiranga Guedes as reformas liberais do Estado.
A primeira já capengou por mérito do presidente e sua cadeia de insanidades prolatadas em praça pública, à média de quase uma por dia, segundo o levantamento dos jornais. É possível estimar que já esteja suficientemente avariada para ter novo sucesso eleitoral.
A segunda, de Sérgio Moro, vem sendo atacada a cada dia pela confluência de interesses e junção de esforços de toda a nobiliarquia de Brasília, no Congresso, no Judiciário e — sabe-se agora — no próprio Palácio do Planalto, onde o ex-juiz passou a ficar incômodo.
Quis o destino que a perna 01, de Jair Bolsonaro, montada sob a bandeira de combate à corrupção e de fortalecimento da Lava Jato, trombasse no contratempo das denúncias de desvios de seu filho Flávio na Assembleia do Rio de Janeiro.
Mais rápido que Sniper para abater a investigação, se aliou sem pudores partidários a um petista histórico, o presidente do STF Dias Toffoli, num casamento de conveniência que embrulhava a Lava Jato de Moro no pacote.
Como o interesse de ambos coincidia com o dos congressistas, criou-se o clima para a aprovação rápida e sumária do projeto de Lei de abuso de autoridade, a mais dura pancada na perna que se sustentou na defesa do contrário.
Ilusão achar que o Congresso é apenas a cornucópia bem urdida onde se juntam suspeitos, uma oposição ressentida pela prisão de seu líder e amadores iludidos.
Os deputados agem, como sempre agiram e agirão, por motivação eleitoral, onde qualquer ameaça externa é sinal de alerta. E cada cabeça que desponta no campo adversário deve que ser cortada.
Também por ironia do destino, calha que os interesses eleitorais da maioria dos deputados de agora são diferentes dos de Bolsonaro. Maia e o conglomerado de apoio que lidera já julgam o presidente um inconveniente que vai passar e preferem alianças com aliados mais sólidos, com o PSDB ou o MDB.
Depois de terem percebido que a primeira perna anda bamba, sem conserto aparente, se movem para a cabeça de Moro sabendo que lhe acertam a perna. A reação é instintiva, como sempre na espécie, quando se vê ameaçada.
Como foi a de Bolsonaro para sair se aliando a Toffoli e ao consenso de que Moro virou problema. Com a diferença de que, no desespero, não está distinguido os inimigos reais do outro lado da praça e se esquecendo de seus próprios cálculos eleitorais.
Se minha tese é válida, por que não batem na canela de Paulo Guedes, a única das pernas que, mais do que se manter de pé, se fortaleceu nas difíceis reformas que encaminhou e se fortalece nas que estão por vir?
Exatamente porque não apresenta ameaça eleitoral alguma. Além de ter dificuldades pessoais para se eleger síndico de prédio, foi cooptado como consultor de alto nível de Rodrigo Maia e sua agenda econômica absorvida e patenteada pelo Congresso.
Num eventual superação da crise econômica, que deve vir ou parecer que veio quando as eleições chegarem o crédito não será dele e muito menos de Bolsonaro.
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