O deputado Eduardo Bolsonaro, o Zero Três da família presidencial, provocou calafrios no establishment diplomático, político e jornalístico. Apenas ou muito por ter posado com o boné da campanha de reeleição de Donald Trump, para 2020,
Ao mesmo tempo, deu um torcicolo em certa casta intelectual à esquerda. Aquela que passou uma vida denunciando o imperialismo americano como causa de todas as desgraças do mundo. Da América Latina em especial e do Brasil em particular.
A foto, já quase icônica, horrorizou o establishment pelos maus modos. Um deputado não deve, não pode, falar em nome do país com tanta desenvoltura.
Para isso, precisa ter credenciais e protocolos da diplomacia. Muito menos, pode arvorar-se a falar em nome do país, sinalizar subserviência em palavras ou modos.
Também arrepiou a intelligentsia pela subserviência. O boné diplomático de adesão infantil à campanha de Trump é proporcional, guardadas as proporções, a um diplomata ter-se enrolado na bandeira do país com o qual está negociando.
A colunista Mariliz Pereira Jorge o chamou em artigo na Folha de S. Paulo de “capacho”.
Lembra, embora a esquerda tenha esquecido, Marco Aurélio Garcia. O assessor informal de Lula para assuntos internacionais andava na cola do chefe do Itamaraty, Celso Amorim, algumas vezes se arvorando a desautorizá-lo. Seria como, em visita a Cuba para uma rodada de negociações, posasse com estampa do Che Guevara na camisa, boné e charuto de Fidel Castro.
Compromissos diplomáticos
O deputado sem modos, o mesmo que dissera em palestra que bastaria um cabo e um jipe para fechar o STF, é de uma coragem e um desassombro impressionantes.
Com a cara limpa, ainda sem boné, bateu na porta de pessoas e postos chaves da administração americana. Entre eles, o genro conselheiro Jared Kushner, o secretário geral da OEA, o secretário adjunto do Tesouro, o vice Mike Pence, dois senadores influentes dos dois principais partidos. E assumiu pelo governo Bolsonaro compromissos radicais pelo que o jogará no ridículo se não forem cumpridos. A delicada transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para o barril de pólvora Jerusalém, por exemplo.
Agiu com a coragem dos inocentes, desconhecendo a caixa de marimbondos em que se meteu, externa e internamente, e o tamanho real do Brasil perante o mundo. Um anão diplomático, como se sabe.
Não é o fim do mundo. Pode ser só engraçado e um tanto ridículo. Mas, como Bolsonaro vem acertando todas, ou quase, vai que dá certo.
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