O melhor que li sobre a nota do Santander que sugeriu a seus correntistas mais graduados uma piora da Economia em caso de derrota de Dilma Roussef veio na Carta Capital, a revista declaradamente favorável ao governo que mistura ao mesmo tempo pregação anti-liberal e apoio ao empresariado, traduzindo bons textos da The Economist.
Como o jornalismo econômico evita se aprofundar em polêmicas e o político quase sempre patina quando se mete em assuntos econômicos, coube a ela dissipar o FlaxFlu de campanha eleitoral do noticiário e esclarecer o que vinha se restringindo à crítica de que o banco não deveria ter personalizado uma crítica que é corriqueira nas análises de conjuntura das corretoras.
Que se trata, em resumo, da Petrobras.
A excelente reportagem de Carlos Drummond mostra como o índice da Bolsa vem sendo empurrado para cima com a posição comprada dos maiores acionistas da empresa depois do governo.
Uma briga de cachorro grande, tubarões nacionais e internacionais como UBS, Credit Suisse, Morgan Stanley, XP, Merryl Linch, Itaú, BTG, JP Morgan e Goldman Sachs. Juntos, detém o maior volume de transações da Bolsa e 85% das ações da Petrobras com potencial suficiente para pressionar o índice para cima ou para baixo.
E por que estão comprados?
Porque percebem, sim, perspectiva de valorização dos papéis com a ascensão de um candidato da oposição nas pesquisas. Para os grandes investidores da empresa, qualquer candidato será melhor que o do governo que vem tomando uma série de decisões contra seus interesses.
O descontentamento começou em 2010, com a decisão do governo de lançar R$ 115 bilhões em ações para financiar investimentos – o que diluiu o valor dos papéis -, se ampliou com a gestão temerária de congelamento dos preços dos combustíveis e se agravou com as notícias dos péssimos investimentos nas refinarias Abreu Lima, em Pernambuco, e de Pasadena, nos EUA. Recentemente, travaram um cabo de guerra com o governo para indicar um dos membros do conselho da companhia.
A classe média sardinha vai atrás
Do que sei, além da matéria, é que empresários e investidores em geral não gostam de trocar seus lucros por investimento de longo prazo e muito menos sua segurança pelo populismo do PT.
Como o PT e seu governo, em compensação, não gostam deles, é de se esperar que torçam por outro governo menos intervencionista em seus negócios.
O governo fatura a crise que a burrada do Santander contribuiu para tirar do âmbito de suas agências, mas com cuidado de não dar outro tido no pé. Numa fase em que precisa agradar a classe média, não é bom ficar batendo no capital. Bater nos ricos já foi bom para ganhar voto, mas quando se dependia apenas dos votos dos pobres.
E é bom que preste atenção que não são só grandes que investem na Bolsa. Atrás do faro dos tubarões, vão sempre o que o jargão do mercado chama de “sardinhas” – a raia miúda de pequenos investidores, as centenas de milhares que compraram ações da Petrobras, até votam em Lula e Dilma, mas não são bestas de rasgar dinheiro.
Bolsa, de certa forma, também é uma eleição em que a classe média também vota todos os dias. Em que ricos e remediados, magnatas e classe média, investem, primeiro, no seu bolso e em quem não mete a mão nele.
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