Editoras e livreiros nacionais estão desesperados com a chegada no mercado de livros físicos da Amazon, a mais poderosa varejista de todos os tempos, que eliminou todas as barreiras para chegar à casa do consumidor de forma mais rápida, mais confortável e — maior dos desesperos — mais barata.
É compreensível que não queiram ficar na frente de um colosso americano, qualquer colosso americano, que resolve arregaçar as mangas por aqui. Quem olhar a história que deu nela, arrepia com o que os empreendedores daquele país é capaz.
Tem-se a Amazon como um fenômeno do grande catálogo online da internet, mas ela é a soma de um conjunto de inovações através do século XX — Fedex, padrões ISBN, cartões de crédito, bancos de dados relacionais e códigos de barra —, como nota Chris Anderson, editor da revista Wired e autor de A Cauda Longa, sobre a revolução das vendas de nicho na internet.
Veja o artigo A Cauda Longa ou o seu poder na era da cultura do nicho
Ele conta uma história melhor ainda, a da Sears, que começou como a Amazon, no final do século XIX. Oferecia produtos em catálogos de papel a comunidades distantes, valendo-se bem dos recursos que começavam a florescer com a modernização do país: ferrovias e correios.
Richard Sears começou revendendo relógios para agentes ferroviários e daí a pouco foi diversificando para levar de tudo às comunidades rurais cortadas pelas ferrovias, até então sem opção além da escassez e dos preços caros das mercearias de esquina.
Com o sócio Alvah C. Roebuck, criou em 1893 a Sears, Roebuck and Co. que chegou a ter 3 milhões de metros quadrados de depósitos numa área construída de 162 mil metros quadrados em Chicago.
Seu catálogo (o Wish Book) de 1897 é um espanto para a época e uma relíquia da história do varejo.
Tinha mais de 770 páginas, como um catálogo telefônico, e mais de 200 mil itens e variações com 6 mil ilustrações litográficas. Só nas primeiras dez páginas, conta Andersen, certamente maravilhado com a peça mas mãos, 67 espécies de chá, 38 de café e 29 de chocolate.
Seguiam-se centenas de variedades de especiarias, extratos, frutas enlatadas, mais de 60 espécie de sabão, armas, remédios, roupas e instrumentos musicais. Até charrete, que a nascente empresa não estocava, mas intermediava.
Inventora da venda por catálogo, a Sears viria esse negócio acabar com o êxodo rural e a urbanização acelerada no início do século XX. Começava nos anos 20 a era das lojas de departamentos, de que também foi líder, e dos supermercados nas grandes cidades, onde se ia comprar de tudo.
Uma espécie de venda de catálogos foi retomada no final dos anos 60, com o 0800, acelerada até o ponto que deu nas facilidades da internet e na genealidade de Jeff Bezos, o criador da Amazon.
Ele sacou que, com a capacidade infinita de armazenamento on-line e de logística de distribuição, não seria possível ter apenas a maior loja com a maior do parte dos livros disponíveis, mas com todos os livros disponíveis.
É o que chega ao Brasil, herdeiro de uma história de desbravadores sem medo e sem limites, que os empresários tupiniquins fazem muito bem em temer. Desde que não os atrapalhem entregar livros mais rápido e mais barato.
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