Batman versus Superman é sobre dois neuróticos em conflito grave com os excessos de seu poder. Um acha que o outro faz mais estrago do que deveria, mata mais inocente como efeito colateral do que seria razoável, na tarefa cotidiana de salvar o mundo.
Aquele negócio: um destrói metade de Gotham para salvar Gotham, o outro destrói metade de Metrópolis para salvar Metrópolis.
É um filme sombrio como gosta seu produtor Christopher Nolan, cheio de alucinações e psicanálise, umas boas tiradas filosóficas sobre poder, com uma premissa falsa logo de cara: como que é um sujeito comum, sem poder nenhum, a não ser escalar paredes, como Batman, vai encarar um outro, de aço, invencível, de força e visão de raios X capazes de destruir um planeta?
A salvação — do filme, não dos heróis — vai ficar na mão dos leigos: a namorada do homem de aço obrigada a intermediar essa briga de cachorro grande e outro neurótico de almanaque, o antagonista Lex Luthor, um rapazinho capaz de produzir um monstro que não há Batman, Superman ou Mulher Maravilha juntos (que acaba aparecendo para dar uma mãozinha) que dêem conta.
(Se bem que Amy Adams, que já namorou o Super Homem no filme anterior e Jesse Eisenberg, o Lex Luthor que faz o Mark Zukerberger de A Rede Social, podem qualquer coisa. Ninguém cria o Facebook por acaso, mesmo em filme.)
Outros leigos vão ser essenciais para dar algum drama crível ao filme, como a mãe que falta para um e a que excede para o outro. Um que não a teve (Bruce Wayne), o outro que tem uma por proteger (Clark Kent).
Minha analista preferida de cinema, Isabela Boscov, viu no filme um monte de referências aos perigos do excesso de poder (há uma audiência no Senado para ouvir e punir o Super Homem).
Achei um tanto exagerado para essa fantasia, mas valeu para me lembrar a ópera-bufa entre os dois presidentes dos maiores poderes da República, Dilma Rousseff e Eduardo Cunha.
São dois obcecados com sérios problemas de excesso de poder, de quem está sendo impossível esperar renúncia ou qualquer outro gesto de grandeza.
Uma destrói um país para salvar o país. O outro destrói um Congresso para salvar o Congresso. Numa luta inverossímil em que os dois saem perdendo. E os leigos, os que votam e pagam impostos, é que têm que segurar a história.
Filme bom para geeks, aquela turma que revê um filme várias vezes para checar detalhes e frases.
E talvez mulheres que não gostam de violência mas pagariam qualquer ingresso para ver o Ben Aflleck como Bruce Waine e o Henry Cavill como Clark Kent. Mesmo correndo o risco de morrer de inveja da Gal Gadot, a israelense que faz a Mulher Maravilha. Prestem atenção nessa mulher.
Ah. E para alguns alguns neuróticos de carteirinha como eu, que, dado o clima geral, anda procurando teoria política até na Galinha Pintadinha.
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