Que coisa pavorosa essa novela A Regra do Jogo. Personagens semi-caricatos, diálogos ginasianos (numa conversa de botequim nesta sexta-feira, o pedreiro pede conselhos sobre música clássica para seduzir a namorada com o manjado trocadilho Chopin/chopinho), cenas pastelão e uma gritaria danada.
A coisa parece ter piorado depois que foi batida em audiência algumas vezes por Os Dez Mandamentos, da Record, com seus efeitos especiais e seus figurinos de Carnaval, mas com uma história bem contada por personagens sólidos.
Naqueles dias, ressurgiram as críticas de que nada acontece em novela da ex campeã absoluta de audiência. A emissora gasta quase todo o fôlego e quase metade do orçamento nas paisagens exuberantes do primeiro capítulo e depois joga o elenco todo dentro do estúdio para bater boca, sem uma boa história.
Ecoavam a mais pertinente das críticas sobre o entrave nos roteiros dos folhetins globais, feita por um roteirista do extraordinário seriado Breaking Bad, num workshop no Brasil. A de que toda a ação ocorre na boca dos personagens, numa converseira sem fim, ao invés do confronto em situações reais.
— Você está me traindo — grita a Suzana Vieira ao invés de se mostrar o encadeamento da traição e todas as implicações emocionais envolvidas, recorrendo até a mesmo a silêncios, como ocorre em boas tramas e longas cenas de Breaking Bad.
Com uma trama frouxa, personagens rasos e a limitação da vida em estúdio, os autores parecem ter reagido com a pior das soluções: uma gritaria danada que começa em provocações e quase sempre acaba em briga a cada encontro. Pior, diálogos de estagiários, por conta do indiscutível desgaste dos autores (os principais são os mesmos de 30 anos de novelas) e limitação dos colaboradores.
Sobra, como sempre, o que a Globo sempre aposta em cada novela na ilusão de que resolve tudo: gente bonita, cenários grandiosos e figurinos perfeitos.
Me impressiona como tanta gente boa — do elenco aos noveleiros, dos diretores à cúpula da emissora — pode estar tão errada ao mesmo tempo.
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