A virada de Dilma sobre o Congresso, conseguindo manter a maioria dos seus vetos depois de uma série de derrotas, é sinal de que está dando certo a sua dança de acasalamento com o inimigo Eduardo Cunha, com quem se reuniu e almoçou depois, e os políticos do Congresso.
Tanto que o programa de televisão do PMDB, que se armava para ser contundente e demarcar seu distanciamento do governo, saiu manso.
Frases pesadas de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição — “Não roubar, não deixar roubar, mandar prender quem rouba“ — foram cortadas na edição final.
Quando alguém reclamou com os dirigentes sobre a censura, como conta Jorge Bastos Moreno em O Globo, ouviu:
– É, mas o doutor Ulysses também dizia que não se deve fazer piquenique na cratera do vulcão.
Até o PSDB, que até torce para a presidente aguentar o tranco até 2018, embora sangrando, fez luva de pelica de seu programa de TV.
Elegante, elegantíssimo aliás, naquele jeito meio lorde de colarinhos e gravatas perfeitas, com um discurso todo cuidadoso de quem não quer briga com ninguém.
Num país apodrecido de corrupção, desvios, colapso fiscal, contas de campanha criminosas, saúde, educação e segurança depauperadas, que dariam um excelente programa-reportagem, os quatro líderes do principal partido de oposição — Aécio Neves, FHC, Geraldo Alkimin e José Serra — apareceram como quatro lordes falando platitudes elegantes que nada acrescentam ao que se lê nas manchetes.
O melhor sinal de que ela está no caminho certo, porém, me parece o fato de Lula ter aparecido para ajudar, depois de uma temporada anônimo.
Não que ele faça alguma diferença a essa altura, mas porque, como dizem os jovens, só vai na boa.
Qual é a boa?
Que Dilma está fazendo tudo certo dentro do figurino de Brasília: ao invés de terceirizar a articulação, está conversando pessoalmente com todo mundo, governadores, líderes e até aqueles que querem só uma foto com a presidente para mandar para o jornalzinho do interior. São baratinhos.
Quando ela erra, ele some. Quando começa a acertar, aparece para passar a impressão de que é ele que está resolvendo as coisas. Ou está vendo que qualquer solução que vem por aí é boa para ele e não pega bem parecer que jogou contra a afilhada e seu pacote. Coisa de político e mentor que não deixa o pupilo crescer.
Ainda é cedo para se dizer, mas ela pode ter enfim compreendido que os técnicos e guerrilheiros que já passaram pela articulação política na Casa Civil – José Dirceu, Erenice Guerra, Ideli Salvari, Gleisi Hoffman, Aloizio Mercadante ou mesmo ela – têm em geral o messianismo de estarem certos. Só que em política bem sucedida, o negócio é admitir que o outro está certo ou fazer de conta que ele está certo ou até mesmo convencê-lo de que está certo.
Poder não é mandar, mas seduzir o outro a fazer o que você quer.
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