Uma das semanas mais quentes da ainda morna campanha eleitoral, a última ficará marcada como aquela em que os dois principais candidatos deram tiros colossais no pé.
Ao se reunir com o enfraquecido vice Michel Temer e líderes menores de sua base no Congresso para isolar um líder que não poderia ter sido isolado (Eduardo Cunha), conseguiu agrupar mais inimigos em torno dele.
Ao se meter num episódio mesquinho de censura prévia aos sites de busca Google, Yahoo e Bing, para bloquear resultados de pesquisas que lhe seriam desabonadoras, levou o grosso das redes sociais a saber que é dado a rompantes de censura e mereceu uma paulada certeira em forma de editorial da respeitada Folha de S. Paulo.
Impressiona que, com tanto avanço tecnológico e tanta informação disponível, os dois principais candidatos a nos comandar tenham demonstrado tão brutal desconhecimento do que se passa na cabeça do adversário e do usuário do novo ambiente de discussão sem regras da internet.
Cabeça de político, de inimigo e de militante de rede social é quase sempre previsível e eles já deveriam saber que não dá para brigar com ela. Ela tem as tais razões que a própria razão desconhece.
Mais interessante, porém, é especular que:
- Dilma tropeçou num ambiente 1.0, o das relações tradicionais que envolvem pessoas, cumprimentos, abraços, troca de informações e bactérias cara a cara, prêmios de consolação entregues em forma de emendas ou cargos.
- Aécio se perdeu no seu primeiro grande embate com o ambiente 2.0, esse mundo volátil e sem rosto, espargido no universo maluco das redes sociais, sem contato físico, em que as trocas se dão por imagens, impressões, preconceitos.
- E ambos estavam/estão desprepados para enfrentá-los
.
De Dilma e do modelo PT de se fazer política no modelo 1.0, não se esperava muito.
É por demais conhecida sua aversão ao jogo político – que inclusive lhe rende alguns bons dividendos junto à opinião pública – e o modo PT de bater, atacar e isolar o adversário para ver o que acontece. Fizeram isso com Roberto Jefferson e deu nas denúncias mensalão. A escolha de um elefante como Aluízio Mercadante para administrar a casa de louça da relação com o Congresso é bom sintoma das escolhas de Dilma nesse assunto.
Já Aécio Neves é macaco velho nesse tipo de hardware de válvula. Ele só cresceu desde que entrou na Política tradicional pelos braços e pela tragédia do avô. Fez-se sozinho como deputado federal, líder e presidente da Câmara, governador e senador. Conciliação, tolerância e diálogo com os contrários, na troca de acordos e bactérias, são as marcas herdadas no sangue com que procurou se estabelecer na opinião pública. Também utilizando formas tradicionais, com um pé nas mídias idem – rádios, jornais, TV e revistas.
Daí que só faz sentido que tenha se aventurado nessa grosseria autoritária, retrógrada e inútil pela sua falta de manejo com o novo universo sem rosto, braços e mãos. Como bateu duro a Folha no seu editorial, o único mérito de sua atitude ao tentar bloquear os resultados de pesquisa “terá sido o de apontar o despreparo do candidato ou de seus assessores para a convivência democrática contemporânea”.
Certamente que os dois episódios serão superados e se tornarão irrelevantes até as eleições. Ambos farão correções de rumo, porque é isso depois que se faz depois de bons petardos no pé.
Bem assessorada, Dilma vai achar seu rumo, ajeitar a válvula de seu modelo anacrônico ou um tipo de relacionamento que pelo menos não piore as coisas. E dificilmente o macaco velho de Minas, ajustando por seu lado a troca de chip, vai cair noutra.
No fim das contas, parece que ele está mais avançado que ela, já tendo ultrapassado a barreira do 1.0 e esteja tateando as possibilidades do 2.0. Mas há que se considerar que os dois viverão um pleito em que o mundo volátil da rede sem rosto é que deve dar as cartas.
Assim, estarão em igualdade de condições em suas inexperiências.
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