
O primeiro Datafolha das intenções de voto no segundo turno, com 51% para Aécio Neves e 49% para Dilma Rousseff, coloca nos devidos lugares a discussão sobre distribuição dos votos no primeiro turno, que vinha descambando para o racismo.
A compreensão mais correta, confirma o estudo dos diretores do instituto, Alessandro Janoni e Mauro Paulino, é socio-econômica e não geográfica, não uma divisão simplista sul-sudeste versus norte/nordeste. Aécio e Dilma no Datafolha têm votos bem distribuídos em todas as classes, principalmente entre os jovens do nordeste, onde estão empatados.
A saber:
A amostra da sociedade brasileira é distribuída, para fins de pesquisa, em:
- 7% de classe Alta (mais escolarizados, de renda mais alta e moradores do sudeste e das grandes cidades),
- 24% de classe Média Alta (de nível médio, com renda entre 5 e 10 salários, moradores do sudeste),
- 31% de classe Média Intermediária (jovens de nível médio e até 5 salários, moradores do nordeste),
- 13% de classe Média Baixa (ensino fundamental, renda de até 5 salários e moradores do sul),
- 25% de Excluídos (nível fundamental, renda de até 2 salários, aposentados e donas de casa).
No caso do primeiro turno, a distribuição ficou assim:
- Aécio tem grande diferença sobre Dilma nas classes Alta e Média Alta, de 74 por cento a 26 e 67 a 33. E ela sobre ele entre os Excluídos, de 64 por cento a 36. Mais ou menos empatam, com ligeira vantagem para ela nas Intermediária (52 a 48) e Média Baixa (53 a 47).
- Ele lidera nas pontas mais altas — Alta e Média Alta — e elas nas mais baixas — Média Baixa e Excluídos.
- A diferença maior a favor dele nessa ponta (31% dos votos) é compensada pela liderança dela, mesmo em menos diferença, na outra, onde o contingente de votos é maior (38%).
- Essas pontas contribuem com 23% dos votos de Dilma e 15% de Aécio. Como eles empatam no meio e ela vai melhor no contingente maior, ele precisa conquistar mais votos nas classes dela, as mais baixas, do que ela nas dele, as mais altas.
Os analistas do DataFolha defendem que os votos estão cristalizados nessas duas pontas antagônicas e que a batalha vai se dar na Classe Média Intermediária. Onde estão os jovens de nível médio, renda de até 5 salários mínimos, moradores do nordeste, responsáveis por 31% dos votos totais.
Eles acham que esses jovens estão mais preocupados com emprego, oportunidade e serviço público do que, acho eu, corrupção.
Minha tese é que as escândalos da Petrobras podem já ter cumprido o seu efeito onde eles alcançam mais repercussão, exatamente nas classes em que Aécio lidera.
Escrevem:
“Mais feminino, jovem, escolarizado e nordestino, porém com menor renda em comparação com o total da população, esse contingente numeroso e economicamente ativo parece não encontrar satisfação no emprego, e, em condições financeiras desfavoráveis, se mostra insatisfeito com a qualidade dos serviços públicos que utiliza.”
Leia a pesquisa do Datafolha: Divisão é sócio-econômica e não geográfica
Leia meu artigo: Classe C tem 56% dos votos e sente órfã de Lula
Válida a tese, o primeiro programa eleitoral de Dilma, ontem, foi mais eficiente para atingir esse jovem: um monte de rosto jovem bonito e matérias significativas sobre as oportunidades de formação educacional e emprego criadas pelo governo petista.
O programa de Aécio carregou a mão em políticos, e velhos, formalizando apoio à sua candidatura. Bom e envolvente, mas a tomar como certa a tese do DataFolha, meio torto.
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