Cada um faz o acordão que está a seu alcance.
O de Romero Jucá que a gravação de suas conversas com Sérgio Machado revelou na segunda-feira passava pelo impeachment de Dilma.
Só sua saída, segundo se infere do divulgado, estancaria a pressão que tornaria possível restabelecer pontes, inclusive com o Judiciário, que fossem boas para todo mundo.
O do presidente do Senado, Renan Calheiros, segundo o que se depreende dos trechos de suas conversas gravadas também em março pelo mesmo Sérgio e divulgadas hoje pela Folha de S. Paulo, era o parlamentarismo branco com Lula na chefia da Casa Civil.
A manobra para torná-lo ministro e livrá-lo do foro privilegiado, que fez água depois de umas dezenas de ações populares e o vazamento de seus telefonemas comprometedores por Sérgio Moro, era tida até ontem como iniciativa no âmbito dos amigos mais próximos, a presidente Dilma incluída.
As conversas de Renan dão a entender que Lula, cobra criada e até então reticente a aceitá-la, só embarcou nela depois de obter certo consenso de quem manda de fato em Brasília. Esteve algumas vezes, nas vésperas da ação desastrada, com Renan e Sarney, como registrou fartamente a imprensa.
Plebiscito e parlamentarismo
A certa altura, Machado diz que o ideal para todo mundo seria a presidente pedir licença:
— Ela continuar presidente, o Michel assumiria e garantiria ela e o Lula, fazia um grande acordo. Ela tem três saídas: licença, renúncia ou impeachment. E vai ser rápido. A mais segura para ela é pedir licença e continuar presidente. Se ela continuar presidente, o Michel não é um sacana…
Ao que Renan corta:
— A melhor solução para ela é um acordo que a turma topa. Não com ela. A negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a eleição, presidente com nova…
— E o Lula, como foi a conversa com o Lula? — pergunta Machado.
— O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá…
— E ele estava, está disposto a assumir o governo?
— Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra…
— Ela não tem força, Renan.
— Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo.
Renúncia, renúncia e repercussão
Era o melhor caminho, diante da conhecida resistência da presidente em renunciar e de uma conversa que ele havia tido com ela naqueles dias.
— Primeiro cenário, a coisa da renúncia. Aí ela, aí quando ela foi falar, eu disse, ‘não fale não, pelo que conheço, a senhora prefere morrer’. (…) Nessa crise toda, estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável.
Essa transição seria possível negociar com os ministros do STF, desde que com outros atores e não ela:
—Não negociam porque todos estão p* com ela.
E excluiria da equação Michel Temer, com quem Renan nunca teve boa vontade e menos então diante de sua aproximação com Eduardo Cunha:
— Michel, eu disse pra ele, tem que sumir, rapaz. Nós estamos apoiando ele, porque não é interessante brigar. Mas ele errou muito, negócio de Eduardo Cunha… O Jáder me reclamou aqui, ele foi lá na casa dele e ele estava lá o Eduardo Cunha. Aí o Jáder disse, ‘p*, também é demais, né’.
O objetivo ao final era o mesmo: um grande arranjo que afastasse Dilma do comando e aliviasse a pressão para que as pontes e o diálogo fossem restabelecidos.
Tecnicamente, duas medidas já poderiam ser tomadas para aliviar a barra dos envolvidos na operação Lava Jato: o STF revogar sua decisão de não aceitar recursos depois de condenação em segunda instância e reforma na lei para proibir delação premiada de réu quando preso.
Era, como se vê, um acordão mais inteligente, mais concatenado e menos traumático, que, como não deu certo, sua denúncia não deve ter tanta repercussão quando o das conversas de Jucá, reveladas na segunda-feira.
H diz
A política no Brasil me lembra “Ensaio sobre a lucidez” de José Saramago. Como são frágeis nossas instituições e nosso sistema politico! Os jogos pessoais dos políticos fazem tremer seus alicerces. Coisa de louco!.