Bela, a da Fera, de 20 anos atrás, já tinha tendências feministas. Altruísta e independente, queria um príncipe sensível que também gostasse de livros.
Rapunzel, na versão de 2010 ( Enrolados/Tangled ), salvava o príncipe pateta utilizando o cabelo como cinto de mil e uma utilidades.
Já Merida, de Valente ( Brave ), que estreou esta semana, nem quer saber de príncipe. Disputa a própria mão num torneio de arco-e-flecha com seus pretendentes, rejeita os três e discursa sobre o direito de cada um batalhar por seus desejos.
Os homens, cada vez mais bobos a cada nova versão dos contos de fadas da Disney/Pixar, são agora perfeitos idiotas inúteis, envolvidos apenas em guerras e pancadaria. Neste, em especial, primeiro criado e co-escrito por uma mulher (Brenda Chapman), são elas que movimentam a história e dão ordem e coerência ao castelo.
A filha agora não ama e quer agradar o papai. Ele é uma peça ali perto, já dominada, importante para algum tipo de apoio. É com a mãe que ela tem que resolver suas pendências, naquele tipo de cumplicidade cheia de ódio, culpa e amor.
Especialista, digamos assim, em contos de princesa, a Disney ajudou a moldar o imaginário coletivo, de crianças e adultos, sobre a ideia de amor romântico da mocinha que espera o príncipe no cavalo branco. Na fusão com a Pixar, a estupenda produtora de desenhos com alta tecnologia, parece ter incorporado ao encantamento de seus desenhos, além da técnica refinada, uma maior conexão com as mudanças de comportamento.
Nelas, até o cabelo das personagens evoluiu da chapinha de Bela, passando pelo liso multitarefa de Rapunzel, até cair no desgrenhadíssimo de Merida – raro caso em que a juba define perfeitamente uma personagem.
Se tudo continuar como vai, não nos assustemos se a próxima princesa Disney sair do castelo antes da adolescência para morar sozinha. E, em tempos de diversidade sexual e sexo sem culpa, vier a preferir outra princesa.
PS:
1. Se você for criança, leve seus pais. O filme é mais adequado para adultos.
2. Ainda tem o curta metragem que sempre abre como aperitivo os filmes da Pixar, um conto de pura poesia que vale o ingresso.
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