Governo Bolsonaro rejeitou quatro vezes oferta do Butantan e ainda acusa o instituto de atraso para defender o fiasco da vacina da Fiocruz
Se não fosse a Coronavac, o Brasil teria tido até agora apenas 2 milhões de vacinas Oxford/Astra Zênica que vieram de favor da Índia, só no início de fevereiro.
Só foi assinar contrato com o Butantan em 7 de janeiro, depois de ter rejeitado quatro ofertas documentadas de compra do instituto, de 160 milhões de doses, em julho, setembro, outubro e dezembro.
E de ter percebido, embora não reconhecesse, o fiasco da Fiocruz, que só vai entregar as primeiras doses em 19 de março.
Duro é ainda ter que ouvir, como disse ontem o secretário executivo do Ministério toda Saúde, Élcio Franco, que o instituto atrasou a entrega da remessa de fevereiro. E a Fiocruz, atrasou quanto?
Mais ainda ouvir hoje Bolsonaro atacar a vacina que salva o país, logo depois de sua mãe de 93 anos ter sido salva pela vacina. Insiste, sem prova, de que ela tomou Oxford, como se o caso dela isolado significasse alguma coisa na sua desídia administrativa.
Não há qualquer resto de dúvida sobre a responsabilidade dele no fiasco de vacinar a conta gotas e deixar morrer gente que poderia ser salva.
Mas especulo se os tecnocratas da Fiocruz também não tiveram sua parcela. Eles convenceram o ministro da Saúde que dariam conta do recado e deram o argumento de que o governo precisava para rejeitar todas as outras alternativas, sobretudo a do adversário João Doria.
Nos meus quase 40 anos de serviço público, sempre vi tecnocrata procurar garantir seu feudo e conspirar contra alternativas que não as suas.
Não fazem e não deixam fazer. O que explica a fantasia de descobrir vacina a médio prazo no Brasil, disputando sem qualquer condição com os maiores, mais equipados e mais ricos laboratórios do mundo. O máximo que conseguem é embalar.
Principalmente, se for de inciativa privada. Com um ódio ancestral por empresário, conspiram pesado contra qualquer fornecedor privado quando encontram ouvidos receptivos.
E ouvidos receptivos há de sobra em governantes inexperientes, pouquíssimo preparados para enfrentá-los, um tanto quanto estúpidos para perceber movimentos de puxa-saquismo.
Quando são ainda populistas e oportunistas, à caça de bajuladores, pior. Quando o interesse de ambos se junta, é um perigo.
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