Brilhantemente suscinto, o gênio do cinema contornou na entrevista com Bial o problema congênito da Globo de dar informação demais em pouco tempo.
Pedro Bial tem o problema congênito dos entrevistadores da Globo de interromper o entrevistado quando ele está mais rendendo.
A emissora tem um DNA de passar o máximo possível de informação no menor tempo, que obriga seus profissionais ao atropelo.
É derivado do que chamei uma vez de “editite”, a síndrome da edição de videoclipe em que tudo tem que ser rápido e montanha russa para não tirar o telespectador da sala.
Mas faz um estrago em entrevistas. Os entrevistadores de outros canais, sem essa pressão, se saem bem melhor em entrevistas muito mais agradáveis.
Silvio Santos, o mestre, por exemplo. Se atém a um tema só, o principal, e leva o entrevistado até esgotar a curiosidade sobre o assunto. Não pulveriza.
A entrevista histórica de Bial com Woody Allen, porém, foi das melhores que ele poderia ter feito. Menos por sua inteligência e preparo para encarar o gênio — é dos poucos entrevistadores brasileiros com formação literária — mas pela genialidade do entrevistado.
Woody Allen é inteligentíssimamente suscinto. Resume suas experiências, seu conhecimento e suas pendengas emocionais em equações rápidas e definitivas,
Daí que ele satisfez a necessidade da Globo, de dar o máximo de informação no menor tempo e atender a contento a avalanche de perguntas muito pertinentes do apresentador.
Fosse menos objetivo e divagador, Bial não o teria deixado falar. Padrão Globo, mesmo contra um gênio.
Três entre tantos destaques:
- A declaração de que Cecília, de A Rosa Púrpura do Cairo, é o personagem com quem mais se identifica. “Tenho uma visão muito triste da existência humana e queria, como ela, estar dentro dos filmes.”
- A referência a Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, um dos seus cinco livros preferidos. “Parece que foi escrito ontem.”
- O insight de por que sempre teve muita liberdade para fazer seus filmes, sem interferência dos produtores. “É que eles não entendem de comédia.”
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