Estrago a vista.
A matéria de capa da Veja que está nas bancas e em todos os sites de notícias pode ser a primeira que vai pegar contra Jair Bolsonaro e tirar-lhe votos ao final da guerra eleitoral.
A revista teve acesso ao processo de separação judicial de sua ex-mulher Ana Cristina Valle, de 2006, que revela ameaças, ocultação de patrimônio e até roubo de cofre.
O processo de mais de 500 páginas revela que ele declarou apenas R$ 433 mil em bens, três casas, um terreno, uma sala comercial, três carros e duas aplicações financeiras. Mas, na disputa litigiosa, ela anexou outra lista de patrimônio com mais três casas, um apartamento, outra sala sala comercial e cinco lotes. Estimado em mais de R$ 4 milhões, que, corrigidos, chegariam hoje a mais de R$ 7 milhões.
Ana o acusou ainda de receber à época mais de R$ 100 mil mensais, apesar de sua renda de deputado e capitão da reserva somar R$ 35,5 mil à época. De ter arrombado um cofre do Banco do Brasil em que retirou joias avaliadas em R$ 600 mil, 30 mil dólares e 200 mil reais em dinheiro.
O processo deixa mais clara também a denúncia publicada pela Folha de S. Paulo de que ele havia interferido junto ao Itamaraty para encontrar em Oslo, na Noruega, o filho objeto da disputa judicial. Na época, Ana declarou que fugira com o filho temendo ameaças de morte do marido.
Acertaram-se em 2008 e, a partir daí, puseram panos quentes nas desavenças. Ela hoje é candidata a deputada no Rio, utilizando o nome do ex-marido. E tem desconversado sobre as acusações para não prejudicá-lo.
É uma bomba. Dessas que, pela tradição das eleições brasileiras, secretárias e ex-mulheres trazem ao ringue. E que, também por essa tradição, processos judiciais vazam mais que peneira.
O mundo político jornalístico que milita em sites de esquerda já esperava qualquer coisa da Veja em véspera de eleição, como é praxe. Pela primeira vez, não é diretamente contra Lula, mas contra alguém que pode ser o adversário de seu candidato, Fernando Haddad, no segundo turno.
Antes, porém, é preciso reconhecer que se trata de jornalismo também. Não dá para ter nas mãos uma notícia dessas e não publicar.
Melhor seria que, pelo menos, informasse as circunstâncias em que tal bomba lhe caiu de mãos beijadas.
Lula e Bergamo em entrevista na Folha
Propaganda? Ricardo Lewandovski concedeu à Folha de S. Paulo acesso para entrevistar Lula na prisão, em recurso contra decisão da 12ª Vara de Curitiba. O jornal alegou cerceamento da liberdade jornalística, mitigação da liberdade de expressão, parcialidade — uma vez que outros presos já foram entrevistados — e decisão anterior do Supremo.
Tudo bem, ok, mas dois problemas:
1. O STF virou delegacia de polícia, em que se vai por qualquer entrevero, saltando as instâncias. O jornal deveria recorrer primeiro aos tribunais acima de Curitiba.
2. O jornal não vai mandar para a entrevista um inquisidor duro, mas Monica Bergamo, de bom trânsito junto ao petista e de conhecida boa vontade com ele em sua influente coluna. O jornal poderia informar, e não é impossível, que ele tenha colocado como condição ser entrevistado por ela.
Vamos ver até onde ela se aprofunda.
A frase de Mourão que a imprensa queria
O general Mourão não parece o idiota que as manchetes querem fazer crer.
Na palestra de 28 minutos no CDL de Uruguaiana, falou bem sobre o asfixiamento do setor produtivo por três décadas de erros desde as bondades criadas pela Constituição bondosa de 1988. Mas caiu na bobagem de dizer que o 13º é jabuticaba e deu a frase que a imprensa e a guerra política precisavam.
É do jogo. A imprensa opera assim e as redes sociais amplificam. Ele é que deveria saber que político em eleição é como advogado no tribunal: só pergunta se sabe a resposta.
E Bolsonaro, que já tem algumas bactérias pra vencer (sua alta foi adiada), tem que administrar mais essa.
Notícia ruim e menos ruim para Haddad
Uma notícia ruim e outra mais ou menos ruim para Haddad:
1. O cancelamento de 3,4 milhões de títulos de eleitores que não foram fazer a biometria atinge mais regiões do eleitorado lulopetista. Não à toa, partidos que apoiam o candidato foram ao STF tentar a revisão do cancelamento. Não deu certo.
2. O índice histórico de abstenção nas eleições nacionais, de quase 30%, também tende a ser maior nas regiões mais pobres, do eleitorado lulopetista. O que consola é que a abstenção este ano, no clima de guerra instalado, tende a ser menor.
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