Do que foi informado e do que interpreto sobre a nova pesquisa do DataFolha de ontem:
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- Jair Bolsonaro não cresceu tanto quanto foi esboçado pela pesquisa do BTG Pactual do mesmo dia, onde chegava a 30%. Saltou de 22 para 24% no DataFolha, em relação à pesquisa de 20/21 de agosto, anterior ao horário eleitoral e ao ataque de Juiz de Fora.
- Ele cresceu mais no Rio, onde a pesquisa estadual do Ibope apurou salto de 25% para 33%, e menos em São Paulo, só 1%. É possível que Geraldo Alckmin tenha tirado parte da vantagem que ele levava ali.
- O crescimento do capitão fica mais nítido na espontânea, em que ganha 5%, saltando de 15% para 20% entre uma pesquisa e outra.
- Ciro e Haddad são os que crescem, pelo bom desempenho do primeiro e possível reflexo de transferência de votos de Lula depois da cassação do registro de sua candidatura, que parece beneficiar ambos. Ciro tomou o segundo lugar de Marina, num salto de 10% para 13%. Haddad saltou mais, de 4% para 9%.
- Marina foi quem mais perdeu. Caiu de 16% para 11%. Geraldo Alckmin estacionou nos mesmos 10% anteriores.
- O instituto tem um conceito elástico de empate técnico que embola os quatro no segundo lugar, Alckmin, Ciro, Haddad e Marina. Mas me parecem nítidas as curvas ascendentes de Ciro e Haddad e a descendente de Marina.
- Ciro ganha de todos no segundo turno, Bolsonaro e Haddad perdem para todos. Os dois extremos, do PSL e do PT, não por acaso, empatam. Até Marina, descendente, ganharia dos dois.
- Haddad está, porém, em processo de subida mais rápida. Além dos seis pontos ganhos na estimulada, saltou 15% na espontânea, de 5% para 20%. É também quem mais ganhou entre os petistas indecisos na pesquisa anterior, quando se pedia opção caso Lula não fosse candidato. Sem Lula, ele salta de 19% para 30% neste universo. Ciro também ganha 4 pontos entre esses e Marina perde 4. Seu problema é São Paulo, onde tem a menor aprovação geral, 7%.
- Bolsonaro tem a maior taxa de rejeição, 43% no geral, mais de 50% no universo feminino. Seus 24% de aprovação geral estão quase cristalizados. Nada menos que 74% de seus apoiadores dizem que não trocarão de voto em hipótese alguma.
- Definida a rejeição do registro da candidatura, Lula caiu de 20% para 9% na espontânea. É sinal de que a maior parte do seu eleitorado fiel caiu na real diante de novas opções.
Lula versus Haddad
É muito rumor para não ser verdade que Lula resistiu ao máximo substituir-se por Fernando Haddad, em favor de Jaques Wagner. Que declinou do convite em nome de uma eleição a senador garantida na Bahia.
Lula certamente farejou que o baiano teria mais chances de conter o avanço de Ciro Gomes no Nordeste contra um professor arrumadinho do sudeste.
Mas também é sabido que Haddad nunca foi da turma do chefe, a sindical que diz amém sempre. É da ala mais intelectual que quis outras vezes arejar o partido, prevendo o fim de Lula, e foi atropelada.
Com Haddad, é mais certo que as visitas à carceragem de Curitiba cessem logo após a eleição, ganhando ou não.
O país de Odete Roitman
É possível que, não fosse Beatriz Segall, morta aos 92 na semana passada, Odete Roitman não tivesse o impacto que teve na história das anti-heroínas, das novelas e do país.
Classuda, a nora de Lasar Segall que frequentava Paris e nunca fez papel de pobre, representou como inimaginável em outra atriz a cara de uma elite de que se dizia arrogante, esnobe e insensível.
Impiedosa, manipulava todo mundo, maltratava empregados, desprezava gente simples e achava que pobre tinha mais é que morrer. Tinha profundo desprezo pelo país. Como se emulasse a si mesma, com ironia, dizia que sua capital era Paris.
Era o final do governo Sarney, inflação a mais de 80%, o mesmo clima de fim de linha de hoje, a retórica de Lula contra a insensibilidade das elites prosperando.
E ela, com seu olhar de enfado para nosso atraso, ajudou a criar a mística de que nosso problema era o que ela encarnava como ninguém, as elites.
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Ramiro Batista diz
Você está certo. Me confundi no gráfico. Corrigindo. Obrigado.
Henrique Rezende diz
O autor se equivocou. Haddad aparece com 9% e Alckimin com 10% (e não o contrário).