Fosse outro partido, na madrugada de sábado em que o TSE decidiu caçar o nome da cabeça de sua chapa e proibir a propaganda eleitoral até a substituição por outro nome, teria abaixado a cabeça e tratado de fazer a troca o mais rápido possível.
Para não prejudicar seu candidato, sua chapa e sua campanha.
Mas estamos falando de PT. E aí entram as espertezas do partido para esticar a corda até o limite, um pouco por DNA do seu fundador, Lula, e muito por causa de suas divisões internas, um sub DNA do DNA principal.
Na madrugada, assim que a presidente Rosa Weber proclamou o resultado para clarear a campanha antes do início do horário eleitoral, o advogado de defesa Luiz Fernando Pereira fez uma questão de ordem razoável. De que não seria justo retirar todo o partido da propaganda eleitoral, já que o horário pertence a ele e a candidatura do vice, Fernando Haddad, havia sido homologada.
A jovem e competente advogada de defesa do partido Novo, Marilda Silveira, alertou para os riscos de o partido usar de estratagemas suspensivos ou, não nas palavras dela, sub-reptícios.
Mas, estourados depois de uma sessão que começara quase 12 horas antes, os ministros se reuniram secretamente e decidiram atender aos argumentos do advogado.
Foi o bastante para, no dia seguinte e até ontem, o partido manter Lula como candidato, objetivamente ou muito descaradamente, nos programas de rádio e TV, em afronta clara que resultou em pelo menos três processos perdidos no TSE.
Feito o TSE de bobo, era a vez de fazer de idiota o coitado do vice, o professor elegante de São Paulo, que vem desde o início da campanha se prestando ao papel constrangedor de servir de poste sem luz, com a tarefa estudantil de ir semanalmente a Curitiba pedir benção ao papai. Aquele que tudo sabe e não abre mão da estratégia de manter-se candidato para uma hipotética vitória nas urnas ou de transferência acachapante de votos na última hora.
O mais razoável seria que, diante da absoluta falta de perspectiva de vitória, dada a acachapante manifestação do TSE em contrário, a troca fosse feita imediatamente para que Fernando Haddad não perdesse mais tempo precioso de propaganda eleitoral, presença em debates e entrevistas, numa campanha curta.
Essa é a ideia de uma ala do partido, aquela que acha que Lula já foi longe demais e que, em outros tempos, foi derrotada por ele nas tentativas de renovar a agremiação.
Mas a ala do ex-presidente, mais forte até porque conta com a força do próprio, venceu de novo.
Decidiu esticar a corda até a data limite de 11 de setembro para a troca do nome e insistir em recursos sem futuro no TSE e no STF. Mesmo que o mesmo advogado daquela madrugada, mais sensato, tivesse advertido de risco maior: a cassação da chapa inteira.
O que se noticia a essa altura é que Lula teria aceitado contrariado essa última hipótese, apostando numa candidatura sub-júdice. Que nem objeto de dúvida deveria ser. Fosse outro candidato, fosse outro partido.
Muitos já escreveram — e concordo em parte — que o grande chefe anda, como sempre, preocupado com ele mesmo. Mais que ganhar a eleição, ele quer força para continuar no jogo e tentar reescrever sua biografia crescendo nas pesquisas, mesmo que continue preso.
Nos seus cálculos entra, certamente, que seus subordinado devem obedecer, independente de que arrebentem as suas, biografias. Como Haddad.
Que obedece mesmo. Fosse outro político, de outro partido, e evidentemente menos fiel, mandaria Lula enfiar a sua candidatura naquele lugar.
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