Dos 507 deputados federais, 478 são candidatos à reeleição ou a outros cargos, estaduais, senador, governador, presidente. Dos 81 senadores, 43 vão pelo mesmo caminho, mas não se pode falar em renovação em uma casa onde se reeleger não é regra e para onde só vão caciques.
Uma panorâmica pelas eleições para governo e Senado nos estados indica que a grande maioria é de nomes velhos ou conhecidos, num quadro em que pelo menos 60 das dinastias familiares, como revelou a Folha de S. Paulo, tentam se perpetuar com seus parentes de primeiro, segundo ou terceiro graus.
No resumo da ópera, a eleição da Lava Jato e dos fichas-sujas, do mais alto índice de degradação da classe política, deverá ser a de menor renovação da história.
O que é causa, efeito ou explicação da anistia que o eleitor concede a Lula nas mais recentes pesquisas eleitorais, do CNT e do Ibope, líder isolado com 37% e a soma das indicações em todos os outros candidatos.
Esse eleitor nunca renovou muito mesmo, nos quase 40 anos que acompanho política. Todas as previsões catastróficas sobre índices recordes de renovação depois de grandes frustrações nacionais — pacotes econômicos, CPIs de corrupção, impeachments — se revelaram um fiasco.
O eleitor sempre mandou de volta para os governos e as casas legislativas seus conhecidos mais próximos nas cidades, numa média de 65% a 75%, independente de seus currículos ou prontuários.
Sempre importou mais a sensação de quem lhe supre melhor as expectativas de comida, teto e emprego, saúde e educação, do que questões morais.
A anistia que ele dá agora a Lula, preso por um de oito processos de corrupção, é uma das explicações dessa equação. A competência de seu marketing de vitimização para se fazer presente no noticiário, da prisão até o registro da candidatura, relembrou a esse eleitorado o tempo que provia essas suas necessidades mais imediatas.
Acrescente-se que os eleitos sempre operaram para lhes facilitar as campanhas e atrapalhar a dos novos, através de leis que lhes garantam a maior fatia do tempo de propaganda legal, das verbas do fundo partidário e dos recursos materiais da administração pública.
É um desequilíbrio desavergonhado.
Um deputado com mandato detém uma estrutura pública de mais de 20 assessores e cotas de correio, telefone e verbas reembolsáveis de despesas, para fazer campanha nos quatro anos para os quais foi eleito na suposição de que iria produzir leis.
Para um candidato novo, sem tempo, sem verba e sem estrutura, furar esse bloqueio é uma tarefa inglória. Para se chegar lá, é preciso ser um tanto quanto parecido com os que estão lá: ter dinheiro próprio ou herança familiar de voto.
É um negócio de cachorro grande, de gente rica, branca e masculina. Difícil um líder pobre que não venha do dinheiro do sindicato, raro um negro, poucas as mulheres.
Nessa eleição em especial, em que o caso de Lula se torna emblemático, o Judiciário tem boa parcela de culpa.
Com sua lerdeza paquidérmica para julgar e punir, quando não salvar, os maiorais de foro privilegiado, ajudou Lula a vender a ideia de que é injustiçado e que todos são desiguais perante a lei. Se desiguais, inocentes.
O eleitor em sua maioria, que nunca ligou muito para as questões morais na hora do voto, que se recusa a escolher muito porque “político é tudo farinha do mesmo saco”, vai para a urna da eleição da Lava Jato mais convencido do que nunca de que são mesmo.
Aí, vota em quem está mais perto ou lhe promete barriga cheia, emprego e teto. Renovar, pra quê?
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