É curioso que os três candidatos mais bem cotados nas pesquisas eleitorais depois de Lula — Bolsonaro, Marina e Ciro — estejam isolados na disputa, no limite das dificuldades para conseguir alianças e vices.
E os dois candidatos do establishment que patinam nas intenções de voto — Alckmin e o avatar de Lula, Fernando Haddad — estejam festejando as últimas alianças em que confiam para ganhar musculatura: respectivamente o centrão e, ontem, o PSB. Em alguns estados, como em Minas, o PT corre atrás do MDB.
Os dois lados da mesma moeda estão indo a fundo no Brasil real, aquele dos prefeitos e deputados que mandam nos votos nos municípios fora das capitais e que vivem de troca de obras e verbas com os governos federal e estaduais.
Enquanto Bolsonaro, Marina e Ciro ficaram batalhando pelo opinião pública em pela ordem, redes sociais, entrevistas e discursos de acenos à esquerda, Alckmin e Lula foram comendo pelas bordas e arrastando as fichas do jogo onde o que conta é a capilaridade do partido e o tempo da TV.
Bombardeado ao limite pela deixar de ser chuchu, Alckmin calou a boca dos aliados todos no acerto com o centrão. Preso, mas com uma logística bem azeitada de entra-e-sai de advogados e aliados pombos-correio da carceragem, Lula articulou com a competência de sempre o isolamento de Ciro.
No frigir dos ovos, os dois vão dividir o latifúndio das prefeituras, dos deputados que detém mandatos com muito voto e o tempo de TV. Se Lula está certo de novo, a disputa no segundo turno será entre direita e esquerda, possivelmente, na sua cabeça, Alckmin e Haddad. Se Ciro ou Marina chegarem lá por conta própria, contra Alckmin, deve apoiá-lo/a.
Tem um fato novo a testar a teoria, que é a força avassaladora de Jair Bolsonaro nas redes sociais e no cultivo de mensagens simples de enorme apelo popular. Quem viu o poder dos WhatsApp na greve dos caminhoneiros, não pode prever o que pode resultar do fenômeno do capitão do Exército que tem um arrastão em seu favor, em número e repercussão nas principais mídias sociais: Facebook, no Youtube e no WhatsApp.
Seu principal aliado na Câmara, deputado Major Olímpio, tem 897 grupos de discussão em que se incluem 60 mil números de militares. Seu filho revelou que tem 2.500 grupos e um candidato a vereador do Rio, 6.500. O potencial de visualização e multiplicação é de milhões em minutos. Abra o seu grupo de WP ou o Youtube e verá a descarga de memes e vídeos de novos influenciadores à direita em maioria acachapante.
A esquerda, que praticamente inventou a guerrilha virtual, já perdeu essa guerra, mas terá a TV com o tempo do PT. Marina e Ciro, com pouco mais de 30 segundos cada na TV e apostavam nas alianças, não se articularam a tempo nesse meio.
Bolsonaro tende a tornar desimportante os segundos que terá na propaganda eleitoral. Sua tropa de choque já é capaz de aumentar sua audiência quando ele aparece na TV e a da própria TV em que aparece.
Levantamento da revista Piauí mostrou que alavancou sua audiência no Roda Viva de segunda passada, a ponto de tornar-se o mais visto do programa no Youtube, 100 mil visualizações a mais do que o mais visto, Sérgio Moro, com pico de 1,8 milhão de visualizações no Facebook.
Esse novo Brasil que Bolsonaro vem cavalgando, espontâneo em sua maioria, é que vai desafiar o Brasil velho. Sobre o que e como vão dizer nesses meios, é assunto para um próximo artigo.
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