Conheça Márcio Noronha, o introdutor da análise gráfica no Brasil que previu as grandes subidas e quedas da Bolsa nos últimos 30 anos.
Ninguém me disse. Eu vi.
Por volta de maio de 2008, no pico de prestígio do governo Lula e da Bolsa de Valores, então em seu recorde histórico de quase 70 mil pontos, eu participava de um curso de análise técnica em São Paulo.
Quando Márcio Noronha, o mais respeitado dos analistas desse mercado, pontificou que o índice chegaria a 72 mil pontos. Chegando lá, era hora de todo mundo vender tudo e ir embora pra casa, porque a queda feia a partir daí chegaria a 48 mil, sem fundo a vista.
Assim falou Márcio Noronha, assim foi.
O índice chegou a 72,9 mil pontos em novembro de 2010 e só desabou a partir daí até beijar os 48 mil em janeiro de 2014 e daí ladeira abaixo até cerca de 37,5 mil um ano depois, em janeiro de 2015.
Ele é o mais respeitado analista técnico de Bolsa de Valores, introdutor da prática no Brasil, o sujeito que analisa os preços e perspectivas das empresas com base apenas no sobe-desce dos traços em seus gráficos. Depois de passar cerca de 30 anos perdendo e ganhando na Bolsa, escrevera o único e definitivo manual brasileiro sobre o assunto.
Era de tal forma convencido de seu instrumento que procurava não tomar conhecimento do noticiário político e menos ainda das informações de fundamento das empresas, para que fatos externos aos gráficos prejudicassem sua análise.
Suas condições ideais de análise de um ativo, pregava, seria fechado numa sala, sem a influência de qualquer informação externa. Alguém iria projetando os gráficos e ele, com base apenas no sobe-desce dos traços, emitiria as ordens: compra, vende, mantém.
Pois no início de 2018, numa teleconferência com três de seus mais bem sucedidos discípulos, jovens analistas do portal de notícias e treinamento Infomoney, eu o vi de novo mexer em seus búzios cibernéticos e prever que ela caminhava então para cerca de 120 mil, depois, talvez, 140 mil.
Assim falou Márcio Noronha, assim seria.
O tempo entre uma coisa e outra nos varia, depende de pequenos avanços e recuos dentro da tendência, do movimento mais ou menos nervoso dentro dos gráficos, num dia, numa semana, num mês, num ano.
Mas certo é que, depois daquela primeira previsão de 2008, a Bolsa nunca passou de 72 mil e nem ficou muito tempo abaixo de 48 mil mil. E certo é que, enquanto não beijasse esse fundo, não voltaria a subir para romper de novo os 72 mil e chegar onde estava em 2018, por volta de 85 mil, a caminho dos 89 em curso prazo e nos 120 mil ao longo.
Olhar o fundo do poço
O que tem comum nesses topos e fundos históricos?
Mais velho, certamente mais experiente, lendo gráficos até de costas, ele deve manter sua fé inabalável na inutilidade dos fatos para empurrar preços.
Mas nessa teleconferência de 2018, ele acabou concordando com um dos meninos que, sim, o início de grandes movimentações desse tipo ocorrem em momentos em que o país está no fundo do poço. É aquela impressão de que, quem quando não se tem mais para onde cair, só resta subir.
Assim falou Márcio Noronha, assim convém ser ouvido.
Num grande gráfico histórico em que delimitou os grandes topos e fundos desde 1980, as datas dos fundos coincidem em um ponto em que o país está no fundo do poço e ao mesmo tempo percebendo uma sinalização positiva de recuperação, por algum grande fato político.
Os mais fundos e históricos coincidiram com a indefinição em torno da possiblidade de Lula ser eleito outubro de 19
- Novembro de 1990 – Ao cabo das medidas desastrosas tomadas pelo presidente empossado em janeiro, Fernando Collor de Mello. O topo havia chegado exatamente no mês de sua posse, em janeiro, com a série de medidas moralizadoras que iriam dar com os burros n’água.
- Novembro de 1992 – Vésperas da votação do impeachment de Collor. Subiria a partir até o início das dúvidas com o Plano Real.
- Final de março de 1995 – Logo após a posse de Fernando Henrique Cardoso e todas as dúvidas sobre o Plano Real. Subiria daí até a explosão de otimismo com o Plano, em julho de 1997.
- Setembro de 1998 – Vésperas e dúvida da reeleição de FHC e ao cabo de denúncias de compra de votos para aprovar a reeleição. Subiria daí, um tanto tímida, até meados de 2000, quando somavam-se a crise do apagão e da desvalorização cambial.
- Outubro de 2002 – Vésperas da muito provável eleição de Lula e a ameaça de fim de mundo pelos grandes empresários e agentes econômicos. Deu a maior esticada a patir daí até maio de 2008, quando deu de cara com a crise das hipotecas americanas, que Lula chamara de “marolinha”.
- Outubro de 2008 – Auge da críse das hipotecas. Vários topos e fundos em conflito até o auge da crise do governo Dilma, em junho de 2013.
- Julho de 2013 – Logo após as passeatas do Movimento Passe Livre.
- Janeiro de 2016 – Logo após o recebimento do pedido de impeachment de Dilma e todas as dúvidas sobre suas possibilidades. O ambiente político estava travado.
Como sua análise termina aí, dá para explicar em retrospecto os dois últimos grandes fundos do poço da tragédia brasileira:
- Agosto de 2018, quando o quadro eleitoral apontava para duas vitórias consideradas arriscadas nas eleições de outubro: a de Fernando Haddad do desmoralizado PT e a do imprevisível Jair Bolsonaro.
- Março de 2020 – Início da pandemia da Covid 19, a terceira maior da história humana, depois da Peste, na Idade Média e da Gripe Espanhola, há 100 anos.
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