Poder político
O determinante para a queda do presidente Michel Temer não é necessariamente a denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot e nem a perda de parte do controle da base política, mas o fato de que o mundo político já escolheu seu sucessor.
Eliane Catanhêde, do Estadão, lembrou bem que as crises se resolvem quando esse universo entra em acordo sobre o substituto, como ocorreu com Itamar Franco no impeachment de Collor de Mello e o próprio Michel Temer no de Dilma Rousseff.
Eu acrescento Tancredo Neves, o protótipo de substituto bem encaminhado da nossa história recente, que tornou viável a travessia que parecia impossível da ditadura para a democracia. E tanto mais relevante porque não só a viabilizou como a tirou das mãos de outra crise chamada Paulo Maluf, escalado pelos militares para substituí-la.
(Pode-se acrescentar também, como curiosidade histórica, o caso de Fernando Henrique Cardoso, que se viabilizou como substituto de Itamar Franco, que era a própria crise com seu humor variável que demitia ministros da Fazenda pelos jornais.)
Para chegar lá, esses eventuais também se viabilizam, claro, numa confluência de destino e habilidade. Costuram acordos, fazem concessões, sintonizam suas ambições com as do status quo, acenam para algumas vontades coletivas e oferecem cargos e posições de comando.
Há pouco mais de mês, o nome de Rodrigo Maia não estava no radar e a situação parecia sem situação a vista.
Toda a crise se resumia à falta de um nome. Fora alguns artistas e a esquerda minoritária em favor de Diretas-já, “Tirar Temer para colocar quem?” era a pergunta de alto a baixo do espectro político majoritário, de alto a baixo dos mercados financeiro e de comunicação.
Maia, um articulador eficiente, fez o dever de casa. Circulou, conversou, manteve as pontes com o Palácio — substitutos inteligentes não afrontam os futuros — e se preparou para quando fosse chegada a hora. Mais do que isso — e é próprio dos substitutos espertos em construção — soube farejar que sua hora chegaria.
A hora chegou porque, como ele teria dito a Temer e qualquer estagiário de Ciência Política sabe, o presidente pode até derrubar essa primeira denúncia contra ele, por margem apertada na Comissão de Constituição e Justiça e no Plenário, pagando caro. Mas, pelas sequelas deixadas, não consegue poder para governar daí pra frente e muito para enfrentar as duas denúncias seguintes que Rodrigo Janot prepara.
A hora é de Maia. Se não der certo depois, porque as flechas de Janot e da grande mídia se virarão contra ele, é outra história. E outra crise. E outra confluência de sorte e habilidade que, se vier antes das eleições de outubro do próximo ano, vai cair no pescoço de outro.
Relembre: >>> Efeito manada pula do carro de Dilma para o restaurante de Temer
Poder midiático
Se fosse possível acreditar em pelo menos uma coisa na longa entrevista que Renan Calheiros deu à Folha de S. Paulo, para dar uma força a Maia, seria essa:
— Acho que o papel do Eduardo Cunha na política brasileira foi deletério. Tinha uma visão completamente distorcida da política e da representação. Isso foi terrível do ponto de vista do abuso do poder, da chantagem com atores econômicos. Michel, que era o líder dessa facção, foi alertado em vários momentos.
Poder pessoal
Quarenta anos depois de reunir alguns fiéis em bancos de madeira numa antiga funerária, a Igreja Universal chega a 7,1 mil templos e 14 mil pastores no Brasil, além de mais de 2,8 mil templos no exterior.
Nesse tempo, a igreja embrenhou pela seara da autoajuda e do estímulo ao empreendedorismo e à prosperidade.
O que diz muito sobre a mudança de um país até então majoritariamente católico, inimigo do lucro, que tinha à época nove de cada 10 fiéis. Hoje, tem cinco.
valdir diz
E viva o Brasil! Muito bom! O cara foi denunciado por ter cometido crime, e o que se fala é se ele tem poder político suficiente para se safar. Também não seria legal se tal compreensão do fato criminoso fosse estendida para todo e qualquer contribuinte? Oferecida a denúncia pelo MP, esta seria submetida à comunidade do criminoso, que iriam decidir, logicamente, pela conveniência ou não de processar o indivíduo, e aí seria levado em conta sua importância em seu meio social. Pois é, seu contribuinte bobo! No seu caso é diferente, porque a denúncia contra você é recebida por carimbo, sem verificação alguma se existe justa causa, ou mínimo lastro probatório que a viabilize.
cristiano marques diz
Entre a versão e o fato, sempre que cai um titular, o articulador da queda é sempre o vice mas nem sempre, ou nunca, é assim.
A posição de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, é importante em quaisquer circunstâncias mas fico pensando: como Rodrigo Maia vai trair Temer?
Sai do espeto e cai na brasa.