Jake Gyllenhaal é um ladrãozinho que se aventura no trabalho de capturar imagens de tragédias noturnas para vender aos noticiários do tipo Cidade Alerta da TV, em O Abutre, título mais que espirituoso em português para NightCrawler (rastreador da noite).
Tentando entender os critérios da editora inescrupulosa que compra suas imagens, Rene Russo, trava o seguinte diálogo:
– Todos os tipos de crimes?
– Gostamos de crimes, mas não todos. Roubo de carro não é novidade para ninguém, né? Os telespectadores estão mais interessados em crimes urbanos que gradualmente se alastram aos subúrbios. O que significa que teremos uma vítima ou vítimas, preferencialmente brancos e endinheirados. Alvos típicos dos pobres e minorias.
– Somentes crimes?
– Não. E todos os acidentes que envolvam carros, estradas, trens, aviões… E por aí vai.
– Sangrentos?
– Bem. Chocantes. A melhor maneira de ilustrar essa realidade, que captura o espírito que quem somos, é pensar no nosso noticiário como sendo uma mulher aos berros correndo pela rua com a garganta cortada.
É uma pancada no jornalismo mundo cão, como há muito eu não via.
Isolado e delirante como os psicopatas solitários que saem atirando contra inocentes, é como se o novo repórter (um Gyllenhaal emagrecido e arrasador) saísse para fazer vítimas sem culpa. A arma, a câmera.
Um thriller empolgante num roteiro redondíssimo, enxuto, de diálogos memoráveis. Principalmente aqueles em que o protagonista exibe o aprendizado de técnicas de gestão empresarial com que toca seu negócio sem escrúpulos e vai, através deles, construindo sua identidade.
Coisa de roteirista dos melhores: Dan Gilroy, autor dos muito inventivos Tudo por Dinheiro e O Legado Bourne, fazendo aqui sua sua estreia na direção, em grande estilo.
Deixe um comentário