Por
Marcos Nogueira
Jornalista
A cobertura da morte do jornalista Jorge Bastos Moreno deixou algumas lacunas e pode levantar algumas reflexões para quem aprecia o jornalismo, seja como consumidor, seja como produtor de conteúdo, esse eufemismo pós-moderno para nós jornalistas.
Poucas vezes se viu tamanha unanimidade em torno de sua competência profissional, sua capacidade de cultivar fontes e de dar ‘furos’, com ironia, sem perder os amigos. Enfim, de seu ecumenismo, pois foi elogiado por gregos e troianos, modernamente apelidados de coxinhas e petralhas. Certamente, nenhum dos depoimentos à mídia estava mentindo. Mais certamente ainda, Moreno faria (e fez) jus aos epítetos.
Mas, ao contrário do que é comum nessas coberturas, quase não se ouviu ou leu algum relato sobre sua vida pessoal em Brasília, a capital em que, na versão de Millôr Fernandes, é “impossível viver sem ser cúmplice”.
Deu pra saber que ele era cuiabano como Gilmar Mendes, que era canhoto e que não sabia datilografar. Mas ninguém disse — e isso é padrão nesse tipo de noticiário, ainda que nas linhas finais — se era casado, se tinha filhos, etcetera, etcetera, ou mesmo qual a causa real de sua morte, tão repentina.
No meio do noticiário, pelo menos um político entrevistado disse que “seus jantares eram deliciosos, reunia gente de todos os matizes”.
Jornalista oferecendo jantares? Terão sido com o próprio salário?
É comum a gente saber que empresários, assessores e publicitários, às vezes travestidos de jornalistas, organizam e ‘oferecem’ jantares e festas em que auferem lucros ou compram a simpatia para suas teses. Mas jornalistas? Geralmente, não têm dinheiro para tanto ou estarão financiados por alguém, o que os incluiria no rol das três categorias citadas.
Navegar no mundo político
Em palestra para estudantes de Jornalismo no final dos anos 1960, Armando Nogueira, então ‘apenas’ um grande cronista de futebol do Jornal do Brasil, com texto primoroso [mais tarde viria a ser o todo-poderoso diretor de jornalismo da Rede Globo], nos dizia que ‘não há fonte desinteressada’.
Isso faz parte do jogo profissional: se alguém lhe passa uma informação é porque tem interesse em que ela seja divulgada; seja para benefício próprio ou para f(**) um adversário.
Essa lição ajuda a entender o sucesso de Moreno.
Ele soube, certamente, navegar nesse meio complicado que é o do mundo político e cultivou fontes que o mantiveram bem informado durante toda sua trajetória, porque confiavam nele [terá ele ‘traído’ alguma delas, em algum momento?] ou porque respeitavam e temiam o veículo para o qual escrevia [isso tem um peso enorme].
Nada a assacar aqui contra a trajetória profissional de Moreno, certamente digna como foram as de três outros jornalistas políticos muito bem informados e competentes que fizeram nossa história profissional, em períodos mais difíceis: Villas-Boas Corrêa, Carlos Castelo Branco e Carlos Chagas.
Mas a cobertura da morte dele não precisava ter sido tão pouco informativa, corporativamente defensiva e laudatória como foi. Ele possivelmente não a elogiaria, se tudo que dizem dele for verdade.
Edgard Utsch diz
Olá Ramiro.
Exatamente!
Meus pais também disseram a mesma coisa aqui em casa, em nossas conversas à respeito.
Meu pai comentou sobre essas possíveis “relações”.
E como se sabe, os pais sempre tem razão…