Uma dama com jeito de mordomo inglês e habilidade de político mineiro, Michel Temer atravessou mais de três décadas de carreira política nas sombras.
Só a consciência de ver vantagem nisso explica ter preferido escorregar entre os acordos que o empurraram sorrateiramente para as posições figurativas e curiosamente estratégicas para os outros.
Como a presidência do PMDB, que exerceu por mais de década. No ninho de águias se bicando que sempre foi o partido, só poderia ter tanta longevidade uma figura que transitasse bem entre todas e não impusesse nada.
Daí que, como tudo em sua carreira, parece ter chegado à presidência por acaso, mais sujeito que agente da história, e tocou o barco nos primeiros meses no seu jeito clássico de remar em recuos. Uma manobra para frente e duas para atrás.
Até a quinta-feira em que seu mundo desabou com as revelações de suas conversas com o dono da JBS, Joesley Batista, na penumbra do Palácio. Foi outro Temer que se apresentou às câmeras de TV, quase a bater no peito, dizendo que não renuncia.
Dois pronunciamentos mais duros depois, contra o empresário e a legitimidade das gravações, disse em entrevista à Folha de S. Paulo que sentia uma boa repercussão do seu novo jeito.
— Como o sr. está sentindo a repercussão de seus dois pronunciamentos, mais incisivos?
— Olha, acho que eles gostaram desse novo modelito [risos]. As pessoas acharam que “enfim, temos presidente”.
Da defesa, partiu para o ataque. Do jeito escorregadio de lorde acostumado a puxar políticos, empresários e juízes para dançar, partiu para a guerra.
- Devolveu as perguntas formuladas pela Polícia Federal no processo de investigação, a fim de desmoralizar investigadores e procuradores.
- Atravessou dias, noites e fins de semana articulando com deputados e senadores para barrar qualquer pedido de investigação do procurador Geral Rodrigo Janot.
- Deu corda a essa base para colocar sob suspeita o relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, que teria aprovado em tempos recordes a delação explosiva e a prisão do deputado Rocha Loures, o da mala de R$ 500 mil. Vazamentos falsos ou mentirosos e ameaça de convocação para depor no Congresso, constrangedores para o ministro, vieram de lá.
- Deu corda a essa base para avançar com o projeto de fim do foro privilegiado, para tirar do STF a definição de sua amplitude. Como não estava dando certo e o Supremo avançava na delimitação que podia deixar seu ministro Moreira Franco em apuros, seu ex-ministro na Corte, Alexandre Moraes, pediu vistas.
- Assinou Medida Provisória que autoriza o Banco Central a fazer acordos de leniência com banqueiros e agentes do mercado financeiro, às vésperas da promessa de delação de premiada de Antônio Palloci que ameaça ser perigosa para o setor.
Até então, vinha atuando em outras frentes e ainda com modos de dama para virar o jogo em seu favor e contra os interesses de procuradores e juízes.
- Indicou os dois ministros do TSE que contribuíram para rejeitar o seu processo de cassação, depois de um longo bailado de aproximação com o presidente da corte, Gilmar Mendes.
- Fechou com a oposição e sindicatos o retorno do imposto sindical por Medida Provisória, depois de extinto na reforma trabalhista que está por ser aprovada este mês.
O ataque para os lados, por cima com os empresários e por baixo com os trabalhadores, praticamente fecha o bunker para segurá-lo onde está, independente de novas revelações e denúncias.
Gilmar e Carmen
O problema — ou solução — de Gilmar Mendes é que ele acredita firmemente no que diz. Não tem um segundo de dúvida do que fez, segundo longa entrevista nesta segunda-feira à Folha de S. Paulo. Rechaça que seja função do TSE resolver a crise política, como se esperou.
Sobrou uma pancadinha para a presidente do STF, que saiu em defesa de Edson Fachin no fim de semana, mas…
— Agora, eu chamei a atenção da ministra Carmen: ela precisa assumir a defesa do tribunal em todos os ataques. O ministro Toffoli já sofreu ataque, ligado a vazamento da Lava Jato. Já houve ataques ao Fux, ao Lewandowski. A revista Veja noticiou que a PGR queria me envolver no caso Aécio. E houve silêncio [de Carmen Lúcia]. É preciso que ela assuma a defesa institucional do tribunal e de todo o Judiciário. E não só de um ou de outro. Essa é a missão dela, como presidente.
A reação dela, nessa linha, veio à tarde.
PSDB e PMDB
Claro que o PSDB não iria sair do governo.
Todo o vai e volta, entende-se agora, tinha a ver com a necessidade de dar resposta à ala jovem do partido, que nasceu ontem e não sabe onde o calo aperta.
Que, no caso atual, tem a ver com manter o apoio do PMDB para, entre outras coisas, salvar Aécio Neves no Senado e fazer coligação para a eleição de 2018.
Reinaldo e o Judiciário
Reinaldo Azevedo, agora hospedado no site da RedeTV dentro do Uol, entrou num processo de reação contra o Judiciário que vazou suas conversas com Andrea Neves, que está lhe tirando a noção de perspectiva.
Dar como técnica a vexamatória decisão do TSE que absolveu a chapa Dilma-Temer, é sinal de que a obsessão com a árvore o fez perder a noção da floresta. Poderia até dizer que o tribunal mudou vergonhosamente de postura entre Dilma e Temer, mas tomar como técnicos aquele voto decisivo de Gilmar Mendes, seguindo os votos frouxos dos três outros contrários à cassação, é meio demais.
Tem entrado num tipo de radicalização da minúcia, do tipo a que advogados se apegam quando interessados em chicanas e juízes quando querem contornar interesses políticos.
José Geraldo diz
Nesse momento de incertezas, melhor um mordomo de filme de terror do que uma vaca louca, ou pior ainda, um analfabeto pinguço metido a comunista que na verdade é só um ladrão vagabundo. O mordomo, nem de longe é o cara, mas, é o melhor que tá tendo, Existe uma trama, uma conspiração sendo arquitetada nesse momento. Ou ela vai nos destruir definitivamente, ou vai reconstruir o país. Ninguém sabe nada ainda. Melhor fazer estoque de vaselina.