Todos os dias, pela manhã e/ou à tarde, você lerá que o PSDB ensaia e/ou anuncia que vai desembarcar do governo.
As análises mais elegantes apontam que o partido está dividido entre os que querem permanecer para não perder os cargos na Esplanada, os que querem sair logo para evitar uma contaminação maior do que já é possível pela lama da atual administração e os poucos, pouquíssimos, reféns de um resto de lealdade ao Michel Temer.
Não me ocorre falar em lealdade ao país, porque não parece ser do que se trata.
O partido não tem qualquer divergência de fundo programático com o presidente que encampou todas as suas teses, na contramão do programa da chapa para o qual foi eleito.
Se a divergência fosse por corrupção, não é por falta de provas que já deveria ter desembarcado há mais tempo.
Não sendo por divergência programática ou por corrupção, restam as razões subterrâneas que sempre fazem mais sentido em Brasília, onde os políticos aproveitam situações de crise para colocar bodes na sala e vender apoio mais caro.
Provavelmente, para os que não querem sair de seus cargos, há os que ameaçam ir embora se não conseguirem entrar também. No meio, os que oscilam entre os compromissos que firmaram com o presidente ou não têm autoridade para enquadrar o partido. Como Tasso Jereissati, meio atabalhoado com a presidência que lhe caiu no colo depois da defenestração prematura de Aécio Neves.
Deve haver um ou outro que acredita em compromisso com o país, mesmo.
Que requer homens de maior estatura que não se sentissem menores ou menos julgados se estivessem dedicados a uma pauta de reformas e votações importantes, independente de quem estivesse sentado no Palácio do Planalto.
Não é difícil comunicar à sociedade essas razões, convencer, e sair inteiro depois delas.
Seria mais digno aguardar a votação de um eventual pedido de cassação em plenário e, havendo um processo bem embasado de provas, votar contra e deixar clara a postura. Tipo:
— Tudo bem, vamos com o governo até o fim, mas cumpriremos nosso dever de votar contra em nome do interesse do povo brasileiro, etc.
Ou, tendo decidido sair, que se saia logo e apresente um bom argumento à sociedade.
Antes disso, brincar de ser a favor ou contra dependendo do grau de estabilidade do presidente da República de turno, deixar como estar para ver como é que fica ou ameaçar sair de manhã para reconsiderar à tarde, revela grosso oportunismo.
Ajuda bem a arrebentar sua imagem, mas, mais do que isso, o que resta de clima e base política ao Palácio para tocar as reformas que o país precisa.
Será que não dá para esfriar a bunda um pouco, até lá? Falta pouco.
Abraço de afogado
Em raras situações a expressão “abraço de afogado” faz tanto sentido como nessa em que a defesa de Dilma abraça a defesa de Temer no julgamento do TSE.
Ocupada em vincular o presidente à chapa de campanha em 2014, é como se dissesse: “ou nos salvamos juntos ou morremos juntos”.
Deixe um comentário